quinta-feira, março 29, 2007

TRISTE SINA...

(imagem recolhida na internet)

"ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política ao acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"
(Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de Évora")

E de 1867 para cá, o que tudo isto não piorou?!... Que triste sina a deste povo.
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C O N S E Q U Ê N C I A S

"Quem semeia ventos
Colhe tempestades!"
Quem causa tormentos
Não deixa saudades.
Quem recorda tempos
Vai vivendo idades.
Quem vive de alentos
Respeita verdades.

Quem tem na memória
Toda a sua história
Não canta vitória
Por suposta glória.

Quem pisa direitos,
Que dos outros são,
Não segue preceitos
Mas perde a razão.
Quem cala conceitos,
Por pura ilusão,
Faz valer defeitos
Por contradição.


Vítor Cintra
No livro: MEMÓRIAS

sexta-feira, março 23, 2007

Jardins de Pedro e Inês

Os doze hectares de jardins botânicos da Quinta das Lágrimas são um verdadeiro museu vegetal onde se podem ver exemplares de árvores oriundas dos cinco continentes. Árvores tão variadas como figueiras da Austrália, palmeiras e sequóias, plátanos e canforeiras entre muitas outras. É à sombra delas que - diz a tradição popular - vagueia o fantasma de Inês na sua eterna procura de Pedro.

Foi aqui que, no século XIV, o príncipe Pedro viveu, com a bela Inês de Castro, o mais admirável e trágico romance de amor que a história de Portugal relata, e que foi escândalo na corte.




E aqui, na Fonte das Lágrimas, Inês terá chorado pela última vez, ao ser trespassada pelos três algozes que, a mando do rei D. Afonso IV, executaram a sentença de condenação à morte. O sangue, que então derramou, ainda hoje dá cor - segundo a lenda - às pedras da fonte.


D. AFONSO

Nascido D. Afonso de uma Santa
Foi homem violento, porque quis.
Entrou, enquanto novo, em guerra, tanta,
Até contra seu pai, o rei Dinis.

Mas foi após morrer "O Lavrador"
Já rei de Portugal e sem cadilho,
Que impôs, a todo o reino, tal terror
Que nem dele escapou o próprio filho.

Sabendo da mulher, por ele amada,
Mandou o rei matá-la, pela espada,
Manchando as mãos de sangue, uma outra vez.

Com crime tão horrendo por memória
Legou, a todo o reino, aquela história
Do grande amor de Pedro por Inês
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Vítor Cintra
No livro: DISPERSOS
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Este artigo é dedicado ao amigo António Paiva, com votos de felicidades pelo seu aniversário.

domingo, março 18, 2007

DEDICATÓRIA

DEDICATÓRIA

Nestes poemas que escrevo
Há muito mais que saudade;
Há protestos, há enlevo,
Há paixões, que trago e levo,
Lembranças da mocidade.

Muitos falam de alegrias,
Quantos de mágoas também,
Outros lembram-me bons dias,
Terras, gentes, nostalgias,
E muito amor por ti, Mãe.

Vítor Cintra
No livro: À DISTÂNCIA

A não publicação de texto antes do poema, foi opção. Este poema é dedicado a alguém muito especial e dispensa considerações.

segunda-feira, março 12, 2007

DIOGO CÃO

(Imagem recolhida na página Navegações Portuguesas do Centro Virtual Camões)

Mandado por D. João II - duas vezes (1482 e 1484) dizem alguns - aos descobrimentos. A História diz-nos que, em 1482 saiu de Portugal, pela primeira vez. Da sua carga faziam parte uns marcos de pedra constituídos por uma coluna encimada pelas armas nacionais e por uma inscrição que continha uma data (certamente a da partida para a viagem), o nome do rei e o nome do navegador, ou seja, o seu. Tais indicações podem ler-se no padrão que ainda hoje existe na Sociedade de Geografia de Lisboa, onde consta:

Na era da criação do mundo de 6681 anos, do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo 1482 anos, o mui alto, mui excelente e poderoso príncipe el-rei D. João II de Portugal mandou descobrir esta terra e pôr estes padrões por Diogo Cão, escudeiro da sua casa.

Eram marcos de propriedade que o rei de Portugal mandava colocar nas novas terras que se descobrissem.

Graças aos vestígios desses monumentos é hoje possível estabelecer, com exactidão, o percurso seguido por Diogo Cão e constatar até que ponto são incompletas e pouco exactas as escassas referências dos cronistas da época, sobre as viagens dos descobrimentos.

Com base nesses vestígios, sabe-se que Diogo Cão navegou atá à Mina e daí para o Zaire. Depois de vencer várias dificuldades navegou até à ponta dos Farilhões (serra Parda) aos 22º 10' de latitude sul. Regressou ao Zaire, que subiu, para visitar o rei do Congo.

Regressou ao Tejo em 1486, trazendo os conhecimentos necessários para atingir a África do Sul, navegando pelo largo, como viria a fazer Vasco da Gama.


N A V E G A D O R E S

Mandaste-nos, senhor, pelo mar fora,
Em busca doutras terras, doutras gentes,
Embora muitas vozes, descontentes,
Ousassem mal dizer, a toda a hora.

Cumprindo vosso mando, com coragem,
Partimos, sem demora, mar além.
E, mesmo temerosos, com desdém
Aos medos e perigos da viagem.

Chegámos ao convívio doutros povos,
De raças e costumes bem diversos,
Surgidos sabe Deus de que universos.

Por lá deixámos fé e cristãos novos,
Trazendo-vos mensagens de amizade,
Riquezas, maior glória, lealdade.

Vítor Cintra
No livro: VERTIGEM

segunda-feira, março 05, 2007

AS NOVAS ESCRAVAS

(Imagem recolhida na internet)
O nº 730 da revista VISÃO, publica um trabalho de Henrique Botequilha e Isabel Marques da Silva, com fotos de Lucília Monteiro, sob a tragédia das mulheres vendidas, quer em Portugal, quer em Espanha.

Perseguindo o sonho, com que as aliciaram, centenas de mulheres acabam inevitavelmente num bordel, vítimas do tráfico a que uma justiça inoperante, ou uma legislação permissiva, não parecem conseguir pôr cobro.

"Sob violência extrema, em condições degradantes, o tráfico de mulheres está entre nós. Nas ruas, nas casas de alterne e nos anúncios dos jornais. A VISÃO investigou, em Portugal e em Espanha, as circunstâncias e os esquemas de um negócio sórdido que se alimenta de impunidade. Do 'olheiro' ao 'loverboy', do isco à escravidão, a denúncia de quem foi tratada como mercadoria humana."

Assim começa este trabalho jornalístico que, mais do que apenas lido, carece ser meditado.


A R R E P E N D I D A

Julgando dominar o seu quebranto
Deixou-se possuir, lavada em pranto,
Por sonhos ressurgidos do passado;
E porque, nesses sonhos, quando chora
Afasta a solidão, que a apavora,
Esquece o seu presente amargurado.

Sentindo ter um nó dentro do peito,
Com muito de amargura e com um jeito
De dor que, quando surge, gera mágoa,
Abafa, num soluço, o seu desgosto,
Tentando dominá-lo a contragosto,
Enquanto sente os olhos rasos de água.

E cada dia traz nova saudade
Do tempo que viveu na mocidade,
Sem ter quaisquer cuidados de maior;
Saber que, nesse tempo, foi feliz

E até que perdeu isso porque quis,
Só vem acentuar a sua dor.

Vítor Cintra
No livro: MOMENTOS