quinta-feira, outubro 28, 2010

Vai austero e não seguro

(Imagem recolhida na internet)
Sob o título em epígrafe, Nuno Rogeiro escreve na Sábado, um artigo de que destacamos o excerto que segue:
«É possível falar a sério em "corte de despesa" do Estado, mantendo automóveis topo de gama, em vez de alienar a frota?
É possível falar seriamente na perda de fundos comunitários, "destinados unicamente ao TGV", sendo certo que o projecto implica, além dessa dádiva, dinheiros nacionais urgentes para outros sectores?
É possível tocar no bolso dos trabalhadores, sem escândalo, sem um estudo detalhado das entidades públicas, parapúblicas, quase públicas e de participação pública acentuada, centrais, regionais e locais, a eliminar, reduzir, reciclar ou reorganizar?
Num encontro recente entre altas esferas (digamos assim), um dirigente apresentou a outro a possibilidade de um plano generalizado que contivesse esses cortes. Resposta pronta: "Mas ó senhor P., isso era deitar mais dezenas de milhares no desemprego!"
Pois era. Mas que moralidade existe, e que exemplo, na manutenção de "dezenas de milhares" de "empregados" em serviços que se reconhece serem excedentários, ou dispensáveis?
Que "sentido ético" há na subvenção a uma mera ilusão de emprego?
Esta parte do Estado a cortar é a tal "gordura" mítica, de que todos falam, e que vários partidos ajudaram a criar. Temos aqui que ser simultaneamente rigorosos, justos, realistas e corajosos."
* * * * * *
Neste artigo o autor, que é objectivo e realista, apenas esquece um pequeno grande pormenor. É que os políticos são demasiado obtusos para verem o óbvio.
.
E N T R E L I N H A S
.
Ao falar, nas entrelinhas,
Dum passado que é recente,
Deixo ver ideias minhas,
Mas também de muita gente.
.
Do protesto fiz desfile,
Por razões que são reais.
Quando tom não é servil,
Não há críticas demais.
.
Se for bom o resultado
Dos protestos por escrito,
Dou o tempo por bendito.
.
E quem sente que é visado,
Ao saber dessas razões,
Saiba aí colher lições.
.
Vítor Cintra
No livro: RECADOS

segunda-feira, outubro 25, 2010

A dívida que os governos deixaram acumular

(Imagem recolhida na internet)
Henrique Neto, ex-deputado do PS, defendeu, no Público, que os governos deviam ser julgados pelo mau estado das contas públicos.
A revista Sábado publica, entre outras, esta declaração do ex-deputado:
"Após o mandato, depois de uma avaliação e de se verificar que os actos cometidos pelo governo, nomeadamente para proveito político próprio, para ganhar eleições, prejudicaram o País.
Deve-se acabar com o clima de impunidade.
As pessoas fazem as maiores barbaridades, por incúria ou incompetência, quando estão nos governos e só são penalizadas politicamente. Por isso, devia haver o mínimo de sentido de responsabilidade e responsabilização dos partidos políticos e dos seus dirigentes.
Defendo o crime público porque há cada vez mais governos irresponsáveis."
À pergunta de: «Quem seria julgado? O primeiro-ministro ou o ministro das Finanças?» "O primeiro-ministro, que é o responsável." Foi a resposta do ex-deputado.
É óbvio que, neste aspecto, estamos em desacordo com o entrevistado. É que, sendo o ministro das finanças, presumivelmente, um técnico, deveria ter, mais do que nenhum outro, plena consciência das consequências das decisões tomadas, quer no desperdício dos dinheiros públicos, quer na desonestidade que o agravamento da carga fiscal, sobre o país, representa. Carga fiscal cujo agravamento tem, como objectivo único, alimentar a gula dos «compadres», como se constata presentemente.
Em nossa opinião quer o primeiro-ministro, quer o ministro das finanças, deveriam ser julgados, não apenas pela sua responsabilidade directa, mas também pela sua incompetência técnica.
.
P A R E L H A
.
Se ouvisse, anos atrás, alguém dizer
O quanto de mentiras já ouvi,
Contadas por políticos daqui,
Riria, por pensar ser anedota.
Além de repeti-lo, por chacota,
Tentava dar-lhe um cunho de chalaça,
Embora sem pensar que, tal desgraça,
Seria bem capaz de acontecer.
.
Mentir, tornou-se prática corrente
Em muitas atitudes e discursos;
Não só p’ra permitir roubar recursos,
Também por arrogância, tacanhez,
Insânia, ou mesmo muita estupidez.
Revelam mau carácter, trafulhice,
Ou mesmo, haver mestrado em vigarice.
Só há um outro traste condizente,
O Santos, “ladrão mor” sempre presente.
.
Vítor Cintra

sexta-feira, outubro 22, 2010

INIMPUTÁVEL

(imagem recolhida na internet)
António Ribeiro Ferreira, assina o artigo que a seguir se transcreve:
"A poeira da propaganda começa a ser levada pelos fortes ventos de Inverno e a realidade cai em cima dos portugueses de uma forma cada vez mais brutal. Os tremendistas de ontem são os realistas de hoje, e os poucos optimistas que restam assumem posições patéticas de quem ainda não compreendeu que as políticas de plástico têm os dias contados. As verdades, nuas e cruas, aparecem de todos os lados.
As agências de rating alertam que Portugal está ameaçado de morte lenta e diversos economistas começam finalmente a libertar-se e a falar verdade aos cidadãos deste País.
A dívida pública é enorme, o endividamento externo perigoso, o défice das contas do Estado dispara e o desemprego atinge níveis nunca antes verificados.
O diagnóstico é terrível e a cura vai ser muito dolorosa. Os portugueses têm andado a viver acima das suas possibilidades e agora chegou o tempo de poupar a sério, a bem ou a mal, provavelmente a mal. Os mitos do Estado salvador, criador de riqueza e de empregos estão, felizmente, a ser desmascarados. Só a economia privada pode criar riqueza e trabalho. Portugal precisa de atrair investimento estrangeiro, mas para isso é preciso aumentar a produtividade e pôr a Justiça a funcionar. Sem estes dois factores o futuro será, como sempre foi, a emigração. Triste sina esta a dos portugueses." (fim da citação)

************
É triste, de facto a sina dos portugueses. Mas não apenas por causa da baixa produtividade e do não funcionamento da Justiça.
É triste sim, mas principalmente pela falta de coragem para exigir contas aos responsáveis pela miséria a que Portugal chegou.
Alguém teve, recentemente, a frontalidade de dizer ao sr. Sócrates que ele é inimputável. Verdade absoluta. É-o, de facto. Ele e toda quadrilha que com ele nos tem desgovernado, governando-se.
Portugal empobreceu, na exacta medida em que eles e os seus «compadres» enriqueceram.
Triste sina a dos portugueses. Mas triste na exacta medida em que, já que a Justiça não funciona (ou não quer funcionar?), se mostram conformistas e não têm coragem para fazer Justiça pelas próprias mãos. Justiça de Fafe, se for caso disso. A começar pelos políticos e a acabar nos juízes (não todos, graças a Deus).
.
S Ó ... C R E T I N O S
.
Quem quer que em Portugal exista o caos,
Viveiro de egoísmo e não de amor?
Quem foi que permitiu que tantos maus
Pudessem ter a lei a seu favor?
.
Quem foi que por sentir-se poderoso,
Por ter guarda-costas e fortuna,
Calou insegurança e, orgulhoso,
Negou haver, por cá, essa lacuna?
.
Quem diz ser governante competente
E faz tantas promessas de milhões,
Mas fica rodeado de ladrões,
.
Ou não sabe o que diz, por isso mente,
Ou faz de nós pensantes pequeninos
Que quer como apoiantes «Só cretinos».
.
Vítor Cintra
No livro: PASSAGENS

terça-feira, outubro 19, 2010

Deputados ou chulos?


Porque não mandamos os vadios estagiarem na Suécia, antes de se poderem candidatar a São Bento?

sábado, outubro 16, 2010

Se não fosse trágico...

(imagem recolhida na internet)
"Não são sacrifícios incomportáveis. O povo tem de sofrer as crises como o Governo as sofre"
Esta pérola de retórica é o brinde mais recente do «ilustre» iluminado, ao povo português.
O mesmo iluminado que em tempos foi dogmático sobre a impossibilidade de se construir o novo aeroporto de Lisboa na margem sul do Tejo, por causa do perigo de "bombas na ponte", abriu agora a boca para nos brindar com mais esta «preciosidade intelectual».
Referia-se, «sua exceleência», obviamente, aos enormes sacrifícios que as medidas propostas pelos inimputáveis (des)governantes do seu partido, o PS, pretendem implementar, para reduzir o défice das contas públicas, cuja catastrófica situação, ele próprio não só defendeu como ajudou a criar.
Ouvi-mo-lo poucas vezes (graças a Deus!), mas nessas poucas vezes que abre a boca, não entra mosca, certamente.
A verdade é que, se não fosse trágico, seria anedótico.
Se bem que, vindo de certas "aventesmas", qualquer arrazoado é de esperar, por mais anormal que seja.
.
D E S A G R A V O
.
Os crimes cometidos por traição,
Por medo, por inveja, ou cobardia,
Por conivência, ou simples omisão,
Não ficarão calados mais um dia.
.
Surgidos dos exílios de lazer,
- Vergonha dum passado feito História -
Guindámos às cadeiras do poder
Os homens de mais triste e má memória.
.
Farrapos, já, dum povo enobrecido
Por feitos grandiosos, no passado,
Mimámos a escumalha da nação;
.
Mas breve há-de surgir a geração
Que lave o luso nome, emporcalhado
Por trastes sem vergonha e punho ergido.
.
Vítor Cintra
No livro: VERTIGEM

terça-feira, outubro 12, 2010

A Factura pesada

(imagem recolhida na internet)
Armando Esteves Pereira Director-Adjunto do “CORREIO DA MANHÔ, escreveu, a 30 de Setembro , em artigo de opinião:
«Todos os portugueses vão pagar caro o plano de austeridade ontem anunciado por José Sócrates. É o terceiro aperto de cinto anunciado este ano por um Governo que em 2009 apostou num Orçamento eleitoralista, com aumento generoso na Função Pública e um plano irrealista de investimentos públicos. Os servidores do Estado pagam agora com juros esse bónus. Sócrates desculpou-se com o álibi da crise. Mas se Portugal é alvo da desconfiança dos mercados, a culpa é do aumento da despesa de um Estado que continua a engordar sem melhorar os serviços e que mantém empresas públicas endividadas onde se colocam os afilhados do poder político com principescas regalias.
A subida do IVA vai provocar uma pressão nos preços num país com menos poder de compra. É um aumento cego e injusto. Este ano, o Governo tapa o défice com um truque com o fundo de pensões da PT. Em termos contabilísticos, a receita de agora será uma despesa no futuro. Mas as contas maquilhadas com os milhões da PT dão para cumprir a meta de 7,3%, com folga.»
Infelizmente para todos nós, tudo isto é verdade. Mas, infelizmente também, isto não é tudo. Há muito mais.
É que a par das provas do desgoverno, que estas medidas demonstram, da manifesta confissão de incompetência e desmando, que nem o arengar do sr. Sócrates consegue já mascarar, da evidente situação desastrosa para onde o desbragado esbanjamento dos recursos públicos, levado a cabo pelos políticos, nos arrastou, vão somar-se as consequências das propostas agora enunciadas, se vierem a concretizar-se.
Nunca o agravamento da carga fiscal foi remédio para a incompetência. Mas, como é óbvio, os políticos são demasiado obtusos para o entenderem. E, porque o são, vamos ver agravar-se o estrangulamento da economia, com o consequente crescimento do desemprego e da pobreza. Por arrastamento vai aumentar a insegurança. E, porque a Justiça não funciona, vai vingar o primado da impunidade que, aliás, na última década, já atingiu níveis inimagináveis.
É óbvio que, enquanto isso, multiplicar-se-ão declarações, as mais imbecis, de "dinossauros", oportunistas, demokratas, compadres e outros, nas TVs, nas rádios e nos jornais engajados, numa repetida tentativa de anestesiar o povo. Declarações tão imbecis como aquela que pretendeu justificar o agravamento dos sacrifícios exigidos ao povo, com um pseudo-sofrimento dos governantes.
Veremos também crescer uma economia paralela (e quem pode condená-la?), como consequência da injustiça fiscal e da prepotência de um estado ganancioso. Fruto de tal, a instabilidade social atingirá níveis impensáveis.
.
A M A N H Ã
.
Mostra-se amargo o presente
Quando o silêncio, ditado
Pela ganância, consente
Que exista fome a seu lado.
.
Mostra-se negro o futuro
Que a escuridão, no passado,
Fundamentou inseguro
Por ser de mágoas marcado.
.
E porque hoje se sente
Que o tempo está balizado
Pelo que é certo, ou errado,
.
Entendo eu, de repente,
Que é quase certo ser duro
Esse amanhã, que é já escuro.
.
Vítor Cintra
No livro: FRAGMENTOS

quinta-feira, outubro 07, 2010

Imaginem

Um dia este homem poderá estar sem emprego... mas isso não lhe diminui a coragem! E porque só podemos concordar com ele, é uma honra citá-lo!




"* Imaginem que todos os gestores públicos das 77 empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento.
Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.
* Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento.
* Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas.
* Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta.
Imaginem que só eram usados em funções do Estado.
* Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público.
* Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar.
* Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês.
Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha.
Imaginem que o faziam por consciência.
* Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas.
* Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam.
* Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares.
* Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas.
* Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde.
* Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros.
* Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada.
* Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido.
* Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.
* Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal.
Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas.
Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.
* Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.
* Imaginem que país seremos se não o fizermos."
.
C U L P A D O S
.
Quando se calam verdades,
Porque se amarram vontades
Com coação, ou mercê,
Venda-se a sociedade,
Que só com sagacidade
Vai perceber o que vê.
.
Em terra aonde os contrastes
Só favorecem os trastes,
Sem que se saiba porquê,
Quando se fala em desastre,
Não há culpado que baste,
Se não for eu, ou você.
.
Porque tardamos pôr fim
Neste viver mal, assim?...
Culpados, nós?... Somos, sim!
.
Vítor Cintra
No livro: FRAGMENTOS