A fome nas escolas
(imagem recolhida na internet)
Pela sua importância e pertinência se transcreve um artigo, publicado em 19 de Novembro de 2010, pelo Professor Arnaldo Antunes:
"Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos. Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar. De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila – oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude. Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas… Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesa como se estivesse a dormir». Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado? É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos." (Fim da citação)
"Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos. Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar. De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila – oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude. Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas… Sem saber o que dizer, segureia-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesa como se estivesse a dormir». Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado? É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos." (Fim da citação)
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Enquanto isto acontece com dezenas de crianças, há quem, despojado de escrúpulos e moral, decrete a miséria dos pobres, enquanto veste fatos "Armani" de milhares de dólares. Tal como há quem viva em palácios e receba, sem fazer o que lhe compete, principesco ordenado, a somar às várias reformas que, na mais absoluta desvergonha, continua a embolsar. Há quem nos diga que isto é viver em «democracia». Eu prefiro dizer a verdade. Isto não é, nunca foi senão imoralidade.
Entretanto, os tais militares «demokratas», auto-intitulados "heróis" do (fatídico) 25 de Abril, olham para o lado e vão continuando a alimentar a sua obesidade, física e mental, parasitando o povo.
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P E N A S
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Sobre os ombros a sacola,
No caminho para a escola,
Empurrada pelo vento;
Enterrados os pezinhos
Nos lameiros dos caminhos,
Passo a passo, num tormento.
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Tiritando com o frio
Vai olhando para o rio,
Que rouqueja, com fragor;
Com coragem de criança
Vence o medo, quando avança,
Mas no rosto lê-se a dor.
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Vítor Cintra
No livro: ECOS
3 Comentários::
Meu caro amigo POETA Vitor;
Concordo plenamente com o seu comentário ao artigo exposto.
Este triste país, de democracia já não tem praticamente nada, porque os tais "senhores" que vestem armani apenas desgovernam, governando-se.
Nunca ABRIL será cumprido com este tipo de "democracia"
Bem haja pelo seu sentido de cidadania.
O poema como sempre excelente.
Um forte abraço.
Linda, linda esta postagem, meu querido amigo Poeta Vitor!
Tendo eu dedicado mais de quarenta anos de minha vida ao ensino, principalmente dos pequeninos, emocionei-me demais, ao ler estes seus versos tão sensívei, inspirado numa realidade que conheço muito bem.
Confesso-lhe que me vieram lágrimas aos olhos...
Bravo!
imenso abraço!
Lindo!
Só é triste que esta realidade esteja a voltar, enquanto "os boys dos jobs" recebam prémios pelo prejuizo que dão ao país!
Luz
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