GUINÉ - Podia ter sido diferente?
Assinado pelo sr. Coronel Vaz Antunes, a revista "O Combatente", de Dezembro de 2008, publica um artigo de cujo conteúdo, destaco o seguinte trecho:
«...
A noite estava cerrada. Na nossa frente viam-se as luzes duma povoação senegalesa. Caminhávamos em silêncio. Chegàmos ao local indicado pelo mensageiro da bicicleta, cerca de 1 km. dentro do Senegal, quando se notou a aproximação de um automóvel que parou a duas centenas de metros, do qual saíram dois indivíduos que se dirigiram para nós a pé.
Era o nosso interlocutor.
O agente fez as apresentações e eu estendi-lhe a mão, o que segundo soube mais tarde, o sensibilizou muito. Ele era o representante do PAIGC.
O interlucotor foi directo:
Não venho tratar de nenhum assunto pessoal nem de grupo restrito. Trata-se sim de problemas que dizem respeito a todos os combatentes do PAIGC.
Andamos já há dez anos nesta luta. Somos agora menos do que quando começàmos. Actualmente não nos entendemos com o escalão político. Eles são cabo verdeanos e comunistas, e nós somos guinéus, combatentes e não comunistas. Desejamos apenas uma Guiné melhor. Já chegàmos à conclusão de que, sozinhos, não somos capazes de a fazer, mas se-lo-emos convosco.
A nossa proposta é muito simples: em dia e hora que se combine acaba a guerra, nós seremos integrados nas forças da Guiné, sem recriminação nem vingança; e depois juntos, faremos a Guiné melhor. Tudo isto tem que ser combinado em curto espaço de tempo e com o maior segredo, porque se for descoberto antes do tal dia e hora terei a mesma sorte que outros companheiros meus já tiveram.
...»
.
Sem comentários!
Apenas a minha homenagem ao sr. Coronel Vaz Antunes.
.A M A R G A S
.
Amarga foi a forma que, imposta,
Nos fez abandonar aquela gente
E que não só podia ser dif'rente
Mas muito mais leal, como resposta.
.
Amarga, na traição que, cometida
Em nome duma falsa liberdade,
Pagou com abandono a lealdade,
De quantos lá viveram toda a vida.
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Amargas são as lágrimas choradas
Por cada um dos velhos camaradas,
Memórias dos soldados que caíram.
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Amargas, mais que as horas de combate,
Os sinos não tocarem a rebate,
Por mortos que os governos omitiram.
.
Vítor Cintra
No livro: RECADOS
12 Comentários::
Curiosamente ainda hoje a Guiné e os combatentes foram bastante falados aqui em casa. O meu sogro esteve lá e diz que a Guiné era o pior sítio, onde a guerra era mais acesa, e onde viu morrer muitos amigos...
Eu, sendo bem mais nova, realmente não ouço o Governo falar do assunto... Uma coisinha aqui, outra ali, mas sem grande relevo ou destaque.
O teu soneto é magnífico Vítor. A forma é sempre de mestre, mas o tema está muito bem abordado.
Beijinhos
Está feito e muito conseguido!! Honras ao Cel. Vaz Antunes e a ti por escreveres com tanta alma este soneto. Beijus
Caro Vitor,
como diz a Vera, a guerra na Guiné foi mais acesa, e eu que estava lá no 25 de Abril, e embora fosse criança na altura lembro-me muito bem de acontecimentos horriveis.
Meu pai era 1º Sargento da Força Aérea, e passámos lá maus bocados.
Belíssima homenagem!
Beijinhos,
Ana Martins
teria sido diferente, sem dúvida. mas vendo as Guineenses que todos os dias chegam à minha escola, e as diferenças que existem entre elas (uns com luxo e fausto, outros sem terem que comer), vê-se que o esforço do Cel Vaz Antunes, não resultou.
Pobres Guineenses, a sobreviver nas mãos de loucos...
Obrigado pelo belíssimo soneto que dá voz aquilo que muitos de nós sentem...
E Eu nunca estive em Àfrica!...
E Desculpa as letras minúsculas e as palavras comidas, (falta "crianças" no primeiro comentário - crianças Guineenses) -
Lá diz o ditado, "Devagar que tenho pressa"...
Bom domingo
Luz
Amargas são as horas feitas de lágrimas, a omissão dos vivos e as dores das perdas...
Um beijo pra ti
...
sabes Amigo?
tudo podia e pode ser diferente, quando devia e deve ser - diferente.
um abraço.
uma Guiné esquecida porque não é estratégica nem apetecível
ficou bonito o poema :o)
muito bem finalizado!!
beijos e boa semana,
MM.
toda a descolonização poderia ter sido feita de outra forma, pelo menos evitando-se guerras e mortes de inocentes.
Belo o teu poema-dedicatória
beijos
Caro amigo,
a vida é um enimga que se baseia sempre na ciência da gratidão ou da traição. Quiçá: dos que tentam a Honra que lhes coube em sorte. Essa sorte tem diversas perspectivas...
Honra aos militares portuguses, principalmente aos que foram assassinados após a independência por terem servido Portugal e os Comandos.
Abraço
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