sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Objectores de consciência?...

(Imagem recolhida na internet)

Ao longo da minha vida já vi o bastante para não me surpreender com facilidade. Mas esta campanha dos defensores do SIM à liberalização do aborto, está a revelar-se uma autêntica caixinha de surpresas. Não tanto pela argumentação invocada, mas especialmente pelas figuras que nela vejo perfilarem-se.

Cumpri, já o disse aqui, serviço militar. E, como todos os jovens da minha geração, cumpri, no então ultramar português, uma comissão por imposição que durou cerca de dois anos e meio, dos quais cerca de ano e meio em zona de guerra.

Uma das situações que, então, mais impacto tiveram em nós, os mobilizados prestes a embarcar, foram as deserções dalguns - poucos - ditos "objectores de consciência". Recusavam-se - argumentaram mais tarde, para justificar a deserção - a tirar a vida a outro ser humano.

"Objectores de consciência" sempre me mereceram o maior respeito. E muitas vezes dei comigo a tentar interiorizar a dimensão do drama de alguém que, em conflicto com a sua própria consciência, se vê na necessidade de abandonar tudo e todos para a não violentar.

Surpresa, surpresa, é ver hoje, alguns dos desertores de então, alinhados e em consonância perfeita com os defensores do SIM ao aborto, arengando asneiras a favor da matança dos inocentes. É óbvio que as vidas destes, talvez por não terem armas, como tinham os outros que no ultramar tivemos que enfrentar, não merecem "objecções de consciência".
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O P O S T O S
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São nossos muitos sonhos, que ficaram
Perdidos num passado doloroso;
E vossos são aqueles que criaram
A gula e ambição, por mero gozo.

São nossos os revezes da fortuna,
Que deixam, no viver, amargo pranto;
E vossos os receios que nos una
Fervor, pela nação que amamos tanto.

Mas porque mais distantes somos nós
Da gula que dá corpo à vossa voz,
Tentais criar o caos, pelo terror.

Doutrinas, que não são a nossa fé,
Impedem que a nação fique de pé,
Coberta p'la vergonha e tanta dor.

Vítor Cintra
No livro: ENCRUZILHADA

12 Comentários::

At 9/2/07 10:40 da tarde, Blogger Sophie said...

Hoje, saí incrédula do meu local de trabalho. Manifestei a minha opinião, defendia-a com o coração e a minha consciência e fui duramente ofendida. Como sou uma pessoa, que gosto de me deitar no travesseiro de consciência tranquila, e não gosto de ser mal educada, mesmo quando o são para comigo, virei costas e limitei-me a vir para casa.
O meu Não é necessário para que um Bébé viva! E vou com ele até ao fim! A mulher pensa, vive, sorri, chora, luta, decide e age... o bébé, sente, luta, procura viver, não pode decidir e nem sequer pediu para nascer.
Como é possível rejeitar o dom que bate cá dentro?
Amigo, obrigada pelas tuas palavras, pela tua sabedoria de vida, pela tua alma. É bom saber, que apesar de tanta cobardia, ainda existe gente bonita que consegue fazer este mundo um pouco melhor.
Um beijo enorme.

 
At 9/2/07 11:23 da tarde, Blogger Escorpiana Explosiva said...

Como não entra aqui para ler as coisa lindas que vc coloca,adoro passar aqui pois teu cantinho me faz tão bem,se não se importa vou concorda com nossa amiga Sophie.realmente existem pessoas que não sabem dar valor aquilo que Deus lhe da de presente.


Um bjs.

 
At 10/2/07 8:55 da manhã, Blogger antónio paiva said...

...............

Amigo,

Deixo-te um respeitoso abraço

Bom fim-de-semana

 
At 10/2/07 6:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É impressionante como as pessoas mudam com o passar dos anos ou então conforme convém...
Os defensores do sim não tratam o feto como uma vida. É apenas um acidente de percurso que pode ser corrigido...
Beijos

 
At 10/2/07 8:58 da tarde, Blogger david santos said...

Olá!
Este soneto está espectacular. O Victor Cintra enche-nos de bons poemas, parabéns.
Quanto à consciência dos outros, espero que entendas, eles têm é no (...), porque de resto, nunca tiveram vergonha naquele (...).
Parabéns e abraços.

 
At 10/2/07 9:03 da tarde, Blogger Isabel José António said...

A Vida é Una Total e Interia. Não só antes da união do espermatozoide com o óvulo como também depois como embrião, criança, jovem, idade madura e velhice. Mesmo depois da morte poderá tornar a ter oportunidade de passar para outro plano da existência.

Então porquê esta discussão em torno da questão se há vida no embrião (claro que há, até mesmo no próprio espermatozoide e no óvulo? DE depois do nascimento a vida pára? Então porque não se criam condições para que todos possam continuar a viver com dignidade? Só há preocupação com o embrião?

Questões muit íntimas e profundas que quer a Ciência que a Espiritualidade nãp conseguiram resolver.

Acresce ainda que quem nos dá o direito de fazer acusações a quem quer que seja?

"Mestre, quantas vezes devemos perdoar? Umas sete?"

JC responde: Devemos perdoar sete vezes setenta e sete....

Gostei muito deste texto.

Obrigado pela visita ao nosso cantinho

Um abraço

José António

 
At 10/2/07 9:27 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Os antigos "objectores de consciência" hoje defendem o aborto?

Teu poema "Opostos", está sob medida...
"E vossos são aqueles que criaram
A gula e ambição, por mero gozo."

Abraços

 
At 11/2/07 6:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Caro Vítor: li atentamente o texto, mas a questão dos "desmanchos" é assunto que divide e fractura a sociedade portuguesa, e portanto polémica. O poema, claro, contém a sua inteira qualidade, que tanto aprecio. Óptimo fim-de-semana.

 
At 11/2/07 10:24 da manhã, Blogger antónio paiva said...

...............

Abraço


Bom Domingo

 
At 11/2/07 11:03 da manhã, Blogger Rosa Silvestre said...

Objectores de consciência de outrora e oportunistas de hoje. Enfim uma tristeza!
Actualmente, na nossa sociedade, sem querer generalizar, existe uma absoluta incoerência de ideias e de príncipios!
Parabéns por seres um dos que mantém viva a coerência naquilo que acredita!

 
At 12/2/07 11:09 da manhã, Blogger Unknown said...

Olá amigo!
O teu poema está magnífico e o final é realmente em grande!
Também eu hoje estou coberta de vergonha... Mas com a minha consciência tranquila, porque votei Não!

Beijinhos

 
At 12/2/07 12:43 da tarde, Blogger CAntonio said...

Caro Vítor,

Talvez, pior do que os que outrora invocaram preceitos para não matar e hoje defendem o aborto, sejam os mais de 50% que se omitiram em dizer sim ou não.

Quem se cala é tão ou mais carrasco do que aqueles que assumem posições favoráveis à legalização da morte.

Sinto-me triste pelo resultado. Como sabes, os bons exemplos, cá em Terras de Santa Cruz são relegados a segundo plano, já os maus exemplos são absorvidos mais rapidamente.

"Doutrinas, que não são a nossa fé,
Impedem que a nação fique de pé,
Coberta p'la vergonha e tanta dor".


Simplesmente magnífico.

Grande abraço ao amigo,

 

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