A CRISE em contraponto
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Esta crise financeira é, antes de mais, uma crise espiritual, ou, se quisermos, uma crise de valores.É a crise de uma sociedade que promoveu o consumismo desenfreado e, agora abandona milhões de consumidores ao estrangulamento das dívidas que ela própria incentivou.
É a crise de uma sociedade que valoriza mais os lucros do capital do que o direito das pessoas à habitação, à educação, ao trabalho ou à saúde.
É a crise duma sociedade que dá um peixe mas recusa-se a ensinar a pescar, que promove a filosofia do "coitadinho" mas cala a solidariedade, que advoga a impunidade, o egoísmo, a incompetência, negando a justiça.
É a crise duma sociedade que idolatrou o dinheiro amesquinhando o amor, a integridade e até a sustentabilidade do planeta.
É a crise duma sociedade onde, por falta de valores, se pode ouvir uma qualquer múmia vulgarizar o sagrado, ou sacralizar o profano.
Mas é também a crise das políticas, das religiões, das organizações que promoveram ou pactuaram com esta idolatria, endeusando a usura.
Usura enquanto exaltação dos valores do dinheiro, acima dos valores humanos e ambientais. Usura enquanto primado do dinheiro, sem o qual não há méritos, nem direitos. Usura enquanto direito a usurpar aquilo que se não semeou.
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R E S T O U - M E
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Restou-me, doutros tempos, o sentido
Que faz acreditar que a realidade
Encontra sempre um fundo de verdade,
Naquilo que se diz p'ra ser ouvido.
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Restou-me, doutras vidas, o cuidado
De nunca crer em tudo o que se diz,
Buscando, desses ditos, a raiz
P'ra não julgar ninguém de modo errado.
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Do tempo, que se escoa agora, apenas
Se deve acreditar que a humanidade
Se não afundará na insanidade;
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E crer que as coisas grandes, e as pequenas,
Embora muitas vezes não pareça,
Farão valer que a vida se mereça.
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Vítor Cintra
No livro: Entre o Longe e o Distante
4 Comentários::
Concordo contigo a 100%. É sobretudo uma crise de valores num tempo em que só a vurgaridade e a mediocridade é que têm valor, em que só se olha para o que é mau e se esquece de valorizar o que verdadeiramente é importante e um bom exemplo são as escolas, onde só se preocupa e só se fala de quem "não consegue", (ou não quer conseguir) e se esquece o bom aluno, o que se esforça. É preciso planos de acompanhamento para quem não estuda, mas se se fala em quadros de mérito, somos apontados porque queremos fomentar a diferença. Só se aponta e dá importancia ao mau e nunca se incentiva a fazer melhor. Quem é que quer ser bom assim!
Um cidadão cumpridor paga tudo e mais alguma coisa e "não faz mais que a sua obrigação". Um cidadão que tendo um "braço mais curto que o outro",e um ataque de perguicite aguda, não trabalha, vive á custa de quem trabalha, não paga nada e ainda está sempre a exigir, a reclamar e a apregoar direitos dele e deveres dos outros. Sou eu que tenho má vontade ou é o mundo que está a girar ao contrário?
Que tempos!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
Caro Vítor,
o soneto é mais uma das suas belíssimas obras e que complementa o texto acima, com qual concordo e assino por baixo.
Beijinhos,
Ana Martins
Olá Vítor, assino por baixo.
Bjinhos, RS.
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