terça-feira, outubro 10, 2006

Companhia de Cavalaria 570

1965 - Grupo de combate da C. Cav. 570
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Em Outubro de 1963, o destino destes jovens foi, como o de tantos jovens da mesma geração, o então denominado 'Ultramar' português. Sem opção, e quando todo o país lhes apontava esse destino como dever, aceitaram-no e cumpriram com honra o que a Pátria lhes exigiu.
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" Longe da sua terra, o Zé Soldado não vencera apenas os seus medos - conquistara um mundo novo. Ali, na imensidão de África, compreendeu que a alma ia muito além do camuflado e da espingarda, e que o seu gesto e palavra chegavam longe, muito longe. Batalhando na selva, junto a desconhecidos de diferentes culturas, aceitou - quase sempre com um sorriso - as ordens, o Fado e a missão. De noite, recatado, à família escreveu palavras ternas... a uns e outros tocou. Cansado de procurar a essência do universo em pequenas notas de rodapé, descobrirá um dia o historiador que existe saudade, e que a mesma - de um e outro lado da montanha - se escreve e sente em português. "
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O excerto que transcrevi, extraído do livro "ELEFANTE DUNDUN", da autoria de João Luiz Mendes Paulo - comandante da Companhia de Cavalaria 570 - recentemente falecido, é a minha homenagem póstuma ao homem, ao militar, sob cujo comando tive a honra de servir e aos camaradas que, no distante ano de 1963, comigo embarcaram para cumprir o dever que a Pátria nos impôs.
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M U D A N Ç A

Servimos nós, com honra, Portugal,
No tempo em que era grande esta Nação.
Pusémos, ao servir, a devoção,
Esforço e sacrifício, sem igual.

E mais do que somente a juventude,
Os sonhos, esperanças e fervor,
A Pátria nos pediu, como penhor,
A vida, os ideais e a virtude.

A tudo respondemos nós "Presente!"
Fieis ao cumprimento dum dever,
Que a todos nós cabia responder.

Até que, por mudança, de repente,
Passámos a ser tidos como mal,
Vergonha e desamor de Portugal.

Vítor Cintra
No livro: ENCRUZILHADA

22 Comentários::

At 10/10/06 4:47 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Injustiça sempre é triste e revoltante, ainda mais quando é cometida contra homens que na juventude se sacrificaram pela Pátria.

 
At 10/10/06 12:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Como ex combatente como percebo isto e que dor por vezes vai na alma.
Resta por hora alguma atenção dedicada aos homens que passaram pelas antigas colónias escrita em vários blog´s enalguns médias.
Pessolamente já não acredito que alguma vez se faça a justiça merecida aos filhos da Pátria

 
At 10/10/06 2:08 da tarde, Blogger Papoila said...

Não só se sacrificaram pela Pátria e se entregaram como é fruto da sua entrega o 25 de Abril! Os jovens capitães de Abril forjaram-se na injusta guerra do "Ultramar"! A história vai repor a verdade dos factos... (também fui à guerra...como mulher de um alferes miliciano médico...)
Beijo

 
At 10/10/06 4:21 da tarde, Blogger DIGNIDADE said...

Olá. Esta mágoa sempre esteve presente nas vidas dos militares e suas famílias, as dúvidas, os medos, os traumas, a revolta...no caso do Ultramar (as ex-colónias), foi particularmente revoltante para todos os intervenientes porque foi mais cruel a rejeição e negação do abandono (os soldados enviados à força foram abandonados à sua sorte pelos que a "história recente" endeusou e os naturais de Portugal Ultramarino foram desconsiderados ao perderam a única nacionalidade que conheciam e abandonados à guerra civil, desta vez tribal...será que os "iluminados" descolonizadores conseguem descansar a sua consciência pelos danos irreparáveis que causaram até hoje? Ou são tão destituídos de senso que a vozinha sumida do "grilo falante" não faz eco nos seus cérebros ocos? Homenageio-te pela "vida perdida" e não desejada e pelos laços de amizade que criaste com os portugueses continentais e ultramarinos negros, mestiços, indianos, chineses e brancos de Moçambique. Bem hajas! Tenhamos fé que esta mentira que nos têm contado ou a verdade que têm omitido, um dia será desmascarada e reposta na História e será feita justiça. Um bj!

 
At 10/10/06 5:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Oi amigo, me privo de comentar por desconhecer o assunto (em boca fechada não entra mosca...rs)mas receba o meu abraço carinhoso....beijos azuis

 
At 10/10/06 7:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Oii!
Bonita homenagem a quem devidamente a merece. O poema é não só uma forma de elogiar um comandante, mas também todos os bravos soldados que lutaram em nome da pátria. Beijos

 
At 10/10/06 7:28 da tarde, Blogger Luna said...

Bonita a tua omenagem,é tão terrivel que em nome da liberdade, se destrua tantas vidas, tantos sonhos
beijos

 
At 11/10/06 12:17 da manhã, Blogger BlueShell said...

Fiquei triste,....

 
At 11/10/06 3:14 da tarde, Blogger Aprendiz de Viajante said...

Hoje conheci este teu outro espaço... gostei muito. Poesia aliada a História... muito interessante mesmo!!!

História é a minha formação de base, por isso acertei em cheio ao passar por aqui.

Um bjo

 
At 11/10/06 5:52 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Transparente ...este assunto complica-se ca dentro de mim sempre - Muito bem escrito.
Beijoca*

 
At 11/10/06 7:57 da tarde, Blogger Fatima Gama said...

Agora lembrei da música que fez muito sucesso no Brasil, que falava sobre a guerra do Vietnã. "Era um garoto que, como eu,
amava os Beatles e os Rolling Stones
girava o mundo sempre a cantar as coisas lindas da América

Não era belo mas, mesmo assim, havia uma garota a fim. Cantava help e ticket to ride ou lady jane e yesterday

Cantava vivas à liberdade
mas uma carta sem esperar da sua guitarra o separou fora chamado na América

Stop com Rolling Stones,
Stop com Beatles' Songs
Mandado foi ao Vietnã lutar com vietcongs

Era um garoto que, como eu,
amava os Beatles e os Rolling stones
girava o mundo mas acabou fazendo a guerra do Vietnã

Cabelos longos não usa mais. Ele não toca a sua guitarra e sim um instrumento que sempre dá a mesma nota
ra-ta-ta-ta
Não tem amigos, não vê garotas, só gente morta caindo ao chão
Ao seu país não voltará pois está morto no vietnã

Stop com Rolling Stones
Stop com Beatles' songs
No peito um coração não há, mas duas medalhas, sim

Em homenagem a este seu post e aos soldados conterrâneos seus estarei colocando ela lá no meu blog. A guerra é sempre um absurdo, sem sentido por mais que se tenha ideiais e a luta tenha uma boa causa, nada justifica! Bjs querido!

 
At 12/10/06 12:11 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Quanta verdade e mágoa transpiram do post e do poema que o documenta.
Tens toda a minha simpatia.
Bjs
M.João

 
At 12/10/06 10:03 da manhã, Blogger Sophie said...

O meu pai foi um dos soldados enviados à força para o Ultramar. Na altura em que nasci, ele estava lá. Só veio 3 anos depois e conheceu-me nessa altura. Segundo ele, o que lhe deu forças na altura era não querer morrer sem conhecer a filha, acreditou nisso e resistiu... mas na sua memória tem marcas muito profundas de amigos que perdeu e nada pode fazer para os salvar.
Um beijinho Vítor.

 
At 12/10/06 6:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Vítor Cintra:

Tinha um amigo meu que dizia: "tenho saudades até dos piores tempos que vivi". isto pressupõe que apesar de tudo, aquilo ser um pesadelo pós-guerra (de guerrilha, que sempre foi a pior!) porque o inimigo aparecia nos locais menos esperados! O meu amigo Poeta não esquece esses tempos em que esteve no ex-ultramar português. Esta homenagem que aqui faz ao Comandante da companhia 507 é justíssima porque existem coisas na vida das pessoas que nunca mais esquecem! Eu safei-me por um triz, porque entretanto deu-se o 25 de Abril.
Meu amigo que excelente este terceto que aqui partilhas connosco. Obrigado. Um abraço.

 
At 12/10/06 8:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Poeta, não conheço a história, porém percebi que aqueles que atendem às exigências da pátria geralmente são esquecidos ou, mais grave ainda, discriminados.
Os seus versos tao lindos e tão tristes demonstram exatamente isso.

beijos

 
At 13/10/06 5:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Invado este espaço, mas não faço estragos, venho somente apreciar uma das mais interessantes páginas que visito com gosto e desejar bom fim-de-semana.

 
At 13/10/06 11:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Servir a patria, em todas as formas possíveis, é uma honra para poucos. Mas amigo, a injustiça acompanha muitas dessas belas histórias de sacrifico... ainda bem que existem pessoas a lembrar do bem que foi feito e não permitem que o tempo apague tais marcas tão nobres.
Um abraço!

 
At 14/10/06 11:35 da tarde, Blogger Manel do Montado said...

Lamento saber assim a notícia, pois ainda esta semana recebi em casa a Revista da Cavalaria, onde se relevava o lançamento do livro.
Mais um camarada que vai mas que estará sempre presente na memória dos que com ele serviram. Perfilo-me perante a sua memória e saúdo-o em continência.

Quanto ao repor da verdade histórica esqueçam. Os heróis da República, do 25 de Abril já não são os militares mas sim os maçons, os opus Dei e opus gay que polulam pelos governos e ministérios. Os próprios generais já não usam os chap+eus de antigamente. A pala do boné deslocou-se da arcada supraciliar para o septo nasal e assim podem mirar ao alto almejando outros cargos após entrada na reserva. Já não miram para baixo, para as tropas que deveriam comandar e não mandar.
Recordo um dito do Padre António Vieira:
“Se serviste a pátria e ele te foi ingrata, tu fizeste o que devias, ela, o que costuma.”
Uma abraço

 
At 16/10/06 4:11 da manhã, Blogger Fatima Gama said...

Olá querido
Passei pra te desejar uma linda semana, com paz e alegrias! Bjs

 
At 16/10/06 2:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Verifico agora que me enganei no número da Companhia, sendo a 570 a que está certa. É sempre a mania de não revisar aquele que publico... As minhas desculpas, mas por isso não ficarás zangado, julgo eu!? Um abraço.

 
At 16/10/06 8:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá Vitor,
Nem sempre é preciso comentar todos os artigos mas lembrar-se de dar uma passadinha pelo blog já é muito bom.
Fico feliz e agradecida por colocares o meu endereço nos teus favoritos. Levo já o teu!
Beijos

 
At 13/11/07 10:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Todas estas mensagens,mexeram com o meu coração,ou não conhecesse aquele grande homem,que um dia acompanhou nos bons e maus momentos o meu pai,que também fez parte da companhia 570,e que meu pai jamais o esquecerá...que DEUS LHE DÊ O ETERNO DESCANSO,pois quem teve o prazer de o conhecer,jamais o Esquecerá.O reencontro ao fim de 30 anos foi a coisa mais bonita a que eu tive oportunidade de assistir,assim como algns Natais da 570.Um bem haja a esse grande Senhor.

 

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