VERGONHA COLECTIVA
Ao ter abandonado muitos dos seus mortos na «guerra do Ultramar», deixando-os espalhados por locais indignos, Portugal vive, há décadas, uma vergonha colectiva. Por essa vergonha, que mancha a memória desses heróis esquecidos, para lá da enorme responsabilidade que envolve todos os governos do pós 25 de Abril de 1974, somos responsáveis todos nós, também pela passividade com que temos ouvido as escusas que os políticos nos acenam.
Apesar da disponibilidade das autoridades locais, na Guiné, em Angola e em Moçambique, para colaborarem no resgate dos nossos mortos, os sucessivos (des)governos, que sem escrúpulos nos esmagam sob uma insensata carga fiscal, suficiente para financiar estádios na Palestina ou absurdas ostentações como a de Viana do Castelo, continuam a argumentar que o país não tem meios financeiros para trazer de regresso os restos mortais daqueles que enviou para a guerra.
Já é tempo de colocar um ponto final nesta vergonha. É um dever sagrado exigir que os restos mortais dos nossos heróis, sejam resgatados e entregues às suas famílias.
Um Movimento Cívico de Antigos Combatentes, lançou um apelo para recolha de assinaturas, visando exigir dos políticos o cumprimento desse dever patriótico. Essa recolha de assinaturas está disponível também em suporte digital:
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M Ã E....D O R I D A.
.Com angústia verdadeira,
De quem o filho perdeu,
Numa esp'rança derradeira
Acredita que há maneira
De poder honrar o seu.
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Com destino tão marcado,
Tão sofrido, p'lo desgosto,
Quer apenas ver lembrado
O bom nome de soldado,
Mesmo que nome sem rosto.
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Desse filho resta agora
Dor atroz, sempre presente,
Numa Pátria, que o não chora,
Esquecida, sem demora,
Do respeito p'lo ausente.
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Vítor Cintra
No livro: MEMÓRIAS