terça-feira, maio 30, 2006

CAMARATE - Um retrato da justiça que temos.








O chamado 'caso Camarate' termina por razões meramente processuais. Podem finalmente virar a página os mentores do crime, com amigos bem colocados. A 'justiça' foi eficaz no seu contributo. Como diz o povo:

"Quem tem amigos não morre na cadeia"

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"Choca ao senso comum que o Estado não tenha, em tempo útil,
investigado e feito justiça, apurando uma sentença, fosse ela condenatória ou absolutória"...
"É lamentável e deixa o Estado português e os tribunais com um triste papel,
no que quase me soa a uma lamentável e gritante denegação da justiça"...

palavras de Nuno Melo, deputado que presidiu à última comissão parlamentar de inquérito sobre Camarate, em declarações à agência Lusa, segundo o Diário Digital.

Mais comentários para quê?... O poema diz o resto.



JUSTIÇA


Se alguma vez encontrei
Razão p'ra compor poemas
Foi o ter visto que a lei
Põe os interesses da grei
Atrás de muitos esquemas.


Sabendo quanto me exponho
Às críticas discordantes
Não abro mão do meu sonho;
Compondo, como componho,
Acuso apenas tratantes.

Justiça?!... Se fosse feita
Sem ver o nome do réu,
Não sendo embora perfeita,
Faria andar mais direita
A vida de quem sofreu.


Vítor Cintra

No livro: MOMENTOS

sábado, maio 27, 2006

CABINDA - A justiça que falta fazer!

No século XIX,
os reinos de Portugal
e de Cabinda,
estabeleceram em
Tratado, que
Cabinda se tornava,
a partir de então,
protectorado
português, cabendo
a Portugal a defesa
da independência
do reino de Cabinda,
face aos poderosos
territórios vizinhos.
O Tratado, que
nunca foi denunciado
por qualquer das
partes, mantém-se,
por isso, em vigor.
Em 1975, porém,
o regime saído da
"revolução dos
cravos", recheado de arrivistas e de pseudo democratas, não se limitou ao trágico abandono de Timor, à ocupação Indonésia.
Fez pior!...
É que, se Timor era colónia (o que, de qualquer modo não justificava o abandono), Cabinda era, sempre foi, um Protectorado.
E, enquanto o Ministro dos Negócios Estrangeiros de então, corria mundo afirmando que Portugal respeitaria todos os compromissos e tratados assumidos, mentindo consciente e despudoradamente, os seus pares negociavam, na sombra, a traição. E a independência, que Cabinda quis preservar face aos seus poderosos vizinhos, perdeu-se, com Cabinda reduzida à condição de colónia de Angola.
Cabe talvez perguntar: "Quanto rendeu a traição?"

O poema que se transcreve, não é só um grito de revolta e uma acusação, é também um abanão às consciências.

CABINDAS

Quem foi que, por dizer-se democrata,
Julgou ser seu direito a decisão
De dar, cobardemente, por bravata,
A terra, tão leal, dum povo irmão?

Quem foi que violou o tal Acordo
Firmado, noutro tempo, co' os Cabindas?...
Quem foi que decidiu mudar de bordo
No rumo de amizade e boas-vindas?

Traímos gente amiga. Todos nós!
Se não por decidirmos na questão,
Traímos por pecado de omissão.

Serei, por isso agora, aquela voz
Que, longe de aceitar essa premissa,
Vos brada, num protesto, por justiça.

Vítor Cintra
No livro: AO ACASO


TIMOR


Todo o nascimento, apesar da perícia do obstetra, é sempre
um processo doloroso. Que o digam as mães.
E como o de qualquer ser vivo, o nascimento de uma nação
é, naturalmente, também um processo doloroso.
Infelizmente Timor não é excepção.
O mundo ouve apreensivo as notícias do que por lá está a
acontecer.
O poema que transcrevo parece ser hoje tão oportuno como
quando do referendo de 1999, que levou à independência.

Timor
Onde o homem morre cedo,
A mulher vive com medo
E a criança com terror;
Timor
Onde o velho chora e reza
Na velhice, que só pesa
Por trazer consigo a dor.

Timor,
Do sofrer silencioso,
Num fervor religioso
Em que Deus é união;
Timor,
Da montanha, que é abrigo
Nos momentos de perigo,
Protegendo os que lá estão.

Timor,
Onde um sonho de menino
Sintetiza o teu destino
No sol novo, que há-de vir;
Timor,
Onde a lágrima vertida
Representa o SIM à vida
Na nação que vai surgir.

Vítor Cintra
no livro: MEMÓRIAS

Cabe ainda deixar uma homenagem a Sérgio Vieira de Melo. Em sua memória e pelo muito que fez por Timor, saibam os timorenses sobrepor o muito que os une ao que os pode separar.

sexta-feira, maio 26, 2006

MAFRA


As minhas primeiras palavras são, necessariamente, de homenagem a Mafra, minha terra de adopção.
Mafra que foi, até ao reinado de D. João V, um pequeno condado, com pouco mais do que uma centena de casebres aglomerados ao redor do Paço da Cerca e da sua igreja de Santo André, tornou-se, durante várias décadas, por cumprimento duma promessa feita pelo rei, num fervilhante polo de actividade, ao redor da construção da Basílica, dos Palácios que a ladeiam e do Convento que lhes fica anexo.
Mas, a partir dessa época, nunca mais Mafra deixou de ter um papel relevante na história da nacionalidade.
Em Mafra pernoitou, na sua derradeira noite em solo português, a caminho do exílio, o último rei de Portugal, D. Manuel II.
Num passado mais recente Mafra teve um papel importante, como escola militar, na preparação dos oficiais e sargentos que combateram no ex-Ultramar.
O poema que escolhi, para ilustrar este tema, sintetiza duma forma marcante, a Mafra desse período:

MAFRA

Mafra!... Mafra do convento,
Dos recrutas, em tormento
Sob o sol, ou chuva e vento,
Ou em noites sem luar;

Mafra!... Mafra, sem idade,
Onde tanta mocidade
Aprendeu quanto a saudade
É capaz de magoar.

Vítor Cintra
No livro "ENCRUZILHADA"

Hoje Mafra está diferente. Melhor!... Dia a dia, Mafra alinda-se. Com um acentuado, mas ordenado, ritmo de crescimento, um ambicioso plano rodoviário próprio, em rápida execução, e mantendo uma qualidade de vida invejável, Mafra é hoje uma vila onde apetece viver. A atestá-lo está o número crescente de famílias que aqui se continuam a fixar.