terça-feira, junho 24, 2008

VERGONHA COLECTIVA


Ao ter abandonado muitos dos seus mortos na «guerra do Ultramar», deixando-os espalhados por locais indignos, Portugal vive, há décadas, uma vergonha colectiva. Por essa vergonha, que mancha a memória desses heróis esquecidos, para lá da enorme responsabilidade que envolve todos os governos do pós 25 de Abril de 1974, somos responsáveis todos nós, também pela passividade com que temos ouvido as escusas que os políticos nos acenam.

Apesar da disponibilidade das autoridades locais, na Guiné, em Angola e em Moçambique, para colaborarem no resgate dos nossos mortos, os sucessivos (des)governos, que sem escrúpulos nos esmagam sob uma insensata carga fiscal, suficiente para financiar estádios na Palestina ou absurdas ostentações como a de Viana do Castelo, continuam a argumentar que o país não tem meios financeiros para trazer de regresso os restos mortais daqueles que enviou para a guerra.

Já é tempo de colocar um ponto final nesta vergonha. É um dever sagrado exigir que os restos mortais dos nossos heróis, sejam resgatados e entregues às suas famílias.

Um Movimento Cívico de Antigos Combatentes, lançou um apelo para recolha de assinaturas, visando exigir dos políticos o cumprimento desse dever patriótico. Essa recolha de assinaturas está disponível também em suporte digital:
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M Ã E....D O R I D A.
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Com angústia verdadeira,
De quem o filho perdeu,
Numa esp'rança derradeira
Acredita que há maneira
De poder honrar o seu.
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Com destino tão marcado,
Tão sofrido, p'lo desgosto,
Quer apenas ver lembrado
O bom nome de soldado,
Mesmo que nome sem rosto.
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Desse filho resta agora
Dor atroz, sempre presente,
Numa Pátria, que o não chora,
Esquecida, sem demora,
Do respeito p'lo ausente.
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Vítor Cintra
No livro: MEMÓRIAS

domingo, junho 08, 2008

Dia de Portugal


Celebramos, no dia 10 de Junho, o Dia de Portugal.
Invocamos também, muito justamente, neste dia, Camões, como expoente da lusitanidade.
Em 1143, perante Guido de Vico, legado papal, era assinado em Zamora, entre Afonso VII de Castela e Leão e D. Afonso Henriques, o tratado de paz em que se reconheceu ao Infante português o título de rei. Nascia, oficialmente, o reino de Portugal.
Durante largos anos, ao lado de D. Afonso Henriques, os portugueses, não medindo esforços ou sacrifícios, haviam batalhado visando este reconhecimento.
De então para cá quantos sacrifícios e lágrimas caldearam o carácter deste povo?!... Quantas alegrias e esperanças lhe acalentaram a alma?!... Quantas vitórias e derrotas lhe temperaram o ânimo?!...
Quantos heróis e quantos santos esta Nação gerou?!... Quantos poetas, escritores e artista este povo revelou?!... Quantos aventureiros, navegantes e descobridores este país mandou mundo além?!...
Mas também quantos cobardes e traidores, trafulhas e desertores, esta terra viu nascer?!... Por acção deles vivemos sob jugo estrangeiro seis décadas. Por acção deles, traições foram urdidas, irmãos foram abandonados, valores foram desrespeitados.
Mas diz a História - esta História de quase nove séculos - que sempre saímos fortalecidos dos desaires.
É por isso também, que neste dia honramos os nossos heróis. É para os lembrar e honrar que nos juntamos frente ao seu memorial, no Forte do Bom Sucesso, numa cerimónia simples, mas sentida. Uma cerimónia em que ex-combatentes evocam a memória de outros combatentes e elevam a voz numa prece de sufrágio.
Cerimónia que os políticos não compreendem e onde não têm lugar, já que celebra valores que não perfilham.
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P R Ó L O G O
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Se aqui, nesta homenagem que se presta,
Se fala, só, de tempos já passados,
É porque, no presente que nos resta,
Nos calam nomes nobres de soldados.
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Aqueles que tombaram no seu posto
Ficaram em sepulcros doutro chão,
Por lá!... Heróis sem nome e já sem rosto,
Varridos das memórias da nação.
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Justiça se fará, talvez um dia,
Se o tempo, de quem fez da cobardia
A honra, num passado bem recente,
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Deixar que o epitáfio dessas vidas
Se cumpra, pois jamais serão 'squecidas
Na alma e no fervor da nossa gente.
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Vítor Cintra
No livro: HOMENAGEM

domingo, junho 01, 2008

O "Dia Mundial da Criança"

(Imagem recolhida na internet)
É, possivelmente, o dia mais indicado para continuarmos a levantar estas questões:
- Porquê UM "dia mundial da criança", apenas, em cada ano?... Acaso não deveriam todos os dias serem DIA MUNDIAL DA CRIANÇA?

- Será que as crianças não merecem mais do que UM dia?... Ou será que, nos restantes dias do ano, a nossa atenção, desviada para outras causas (algumas ridiculamente absurdas) é incapaz de sobrepor-lhes as crianças?...

- Como queremos um mundo melhor, mais justo, se no centro da nossa atenção, não estiverem sempre as crianças - TODAS AS CRIANÇAS - particularmente as mais desprotegidas?

- O que é que, no dia a dia, fizèmos e fazemos para que o "dia mundial da criança" seja mais do que uma vulgar efeméride que visa ludibriar as consciências, mais do que pugnar por resultados práticos, visíveis?

- Porque deixamos as nossas crianças à mercê de organizações vulneráveis, de políticos sem escrúpulos nem consciência e de uma justiça entorpecida e inoperante?

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E N J E I T A D O
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Batem longe as badaladas,
Chamam gente à oração.
Quantas lágrimas choradas
Por crianças desprezadas,
A viver em solidão.
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O menino só, que espera
Ter da vida um pouco mais,
Quantas vezes desespera,
Porque os sonhos são quimera,
Sem saber quem são os pais.
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E o olhar, que é tão bonito,
Vai na tarde quente, calma,
Mergulhar no infinito,
Triste, meigo mas aflito,
Porque é dor que traz na alma.
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Vítor Cintra
No livro: RELANCES