quarta-feira, abril 28, 2010

O PORREIRO - no "Público"


Público, quinta-feira, 2 de Abril de 2009
Nunca se deve dar poder a um tipo porreiro


O porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao país.
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No início, ninguém dá nada por eles. Mas, pouco a pouco, vão conseguindo afirmar o seu espaço. Não se lhes conhece nada de significativo, mas começa a dizer-se deles que são porreiros. Geralmente estes tipos porreiros interessam-se por assuntos também eles porreiros e que dão notícias porreiras. Note-se que, na política, os tipos porreiros muito frequentemente não têm qualquer opinião sobre as matérias em causa mas porreiramente percebem o que está a dar e por aí vão com vista à consolidação da sua imagem como os mais porreiros entre os porreiros. Ser considerado porreiro é uma espécie de plebiscito de popularidade. Por isso não há coisa mais perigosa que um tipo porreiro com poder. E Portugal tem o azar de ter neste momento como primeiro-ministro um tipo porreiro. Ou seja, alguém que não vê diferença institucional entre si mesmo e o cargo que ocupa. Alguém que não percebe que a defesa da sua honra não pode ser feita à custa do desprestígio das instituições do Estado e do próprio partido que lidera. O PS é neste momento um partido cujas melhores cabeças tentam explicar ao povo português por palavras politicamente correctas e polidas o que Avelino Ferreira Torres assume com boçalidade: quem não é condenado está inocente e quem acusa conspira. Nesta forma de estar não há diferença entre responsabilidade política e responsabilidade criminal. Logo, se os processos forem arquivados, o assunto é dado por encerrado. Isto é o porreirismo em todo o seu esplendor.
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Acontece, porém, que o porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao país. Fomos porreiros e fizemos de conta que a sua licenciatura era tipo porreira, exames por fax, notas ao domingo. Enfim tudo "profes" porreiros. A seguir, fomos ainda mais porreiros e rimos por existir gente com tão mau gosto para querer umas casas daquelas como se o que estivesse em causa fosse o padrão dos azulejos e não o funcionamento daquele esquema de licenciamento. E depois fomos porreiríssimos quando pensámos que só um gajo nada porreiro é que estranha as movimentações profissionais de todos aqueles gajos porreiros que trataram do licenciamento do aterro sanitário da Cova da Beira e do Freeport. E como ficámos com cara de genuínos porreiros quando percebemos que o procurador Lopes da Mota representava Portugal no Eurojust, uma agência europeia de cooperação judicial? É preciso um procurador ter uma sorte porreira para acabar em tal instância após ter sido investigado pela PGR por ter fornecido informações a Fátima Felgueiras.
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Pouco a pouco, o porreirismo tornou-se a nossa ideologia. Só quem não é porreiro é que não vê que os tempos agora são assim: o primeiro-ministro faz pantomina a vender computadores numa cimeira ibero-americana? Porreiro. Teve graça não teve? Vendeu ou não vendeu? Mais graça do que isso e mais porreiro ainda foi o processo de escolha da empresa que faz o computador Magalhães. É tão porreiro que ninguém o percebeu mas a vantagem do porreirismo é que é um estado de espírito: és cá dos nossos, logo, és porreiro.
E foi assim que, de porreirismo em porreirismo, caímos neste atoleiro cheio de gajos porreiros. O primeiro-ministro faz comunicações ao país para dizer que é vítima de uma campanha negra não se percebe se organizada pelo ministério público, pela polícia inglesa e pela comunicação social cujos directores e patrões não são porreiros. Os investigadores do ministério público dizem-se pressionados. O procurador-geral da República, as procuradoras Cândida Almeida e Maria José Morgado falam com displicência como se só por falta de discernimento alguém pudesse pensar que a investigação não está no melhor dos mundos...
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Toda esta gente é paga com o nosso dinheiro. Não lhes pedimos que façam muito. Nem sequer lhes pedimos que façam bem. Mas acho que temos o direito de lhes exigir que se portem com o mínimo de dignidade. Um titular de cargos políticos ou públicos pode ter cometido actos menos transparentes. Pode ser incompetente. Pode até ser ignorante e parcial. De tudo isto já tivemos. Aquilo para que não estávamos preparados era para esta espécie de falta de escala. Como se esta gente não conseguisse perceber que o país é muito mais importante que o seu egozinho.
Infelizmente para nós, os gajos porreiros nunca despegam.
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Num país que, perante o acumular de abusos, desvergonhas, compadrios e impunidades dos políticos, parece apático e está moralmente moribundo é impossível não admirar a lucidez e objectividade desta jornalista. Ao invés do que diariamente nos é mostrado, é gratificante constatar que ainda há jornalismo sério. É, sem dúvida, um sinal de esperança.
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A P E L O
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Ó tu, deusa maior da lusa gente,
Que, nas histórias vivas do passado,
Ousaste, com olhar mais indulgente,
Deixar-nos ver da terra um outro lado;
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Ó tu, Moira seráfica, sem tempo,
Chegada à Lusitânia noutra era,
Que deste aos portugueses mor alento,
Capaz de derrotar qualquer Quimera;
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A nós, que somos filhos desse povo
A quem, por protecção de Juno e Marte,
Deixaste que chegasse a toda a parte,
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Tecida a nossa vida em fio novo,
Demonstra que a coragem doutros tempos
Apenas nos deixou por uns momentos.
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Vítor Cintra
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No livro: DESABAFOS

quinta-feira, abril 08, 2010

CULPADOS

.(imagem recolhida na internet)
A poeira da propaganda começa a ser levada pelos fortes ventos de Inverno e a realidade cai em cima dos portugueses de uma forma cada vez mais brutal. Os tremendistas de ontem são os realistas de hoje, e os poucos optimistas que restam assumem posições patéticas de quem ainda não compreendeu que as políticas de plástico têm os dias contados. As verdades, nuas e cruas, aparecem de todos os lados.
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As agências de rating alertam que Portugal está ameaçado de morte lenta e diversos economistas começam finalmente a libertar-se e a falar verdade aos cidadãos deste País.
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A dívida pública é enorme, o endividamento externo perigoso, o défice das contas do Estado dispara e o desemprego atinge níveis nunca antes verificados.
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O diagnóstico é terrível e a cura vai ser muito dolorosa. Os portugueses têm andado a viver acima das suas possibilidades e agora chegou o tempo de poupar a sério, a bem ou a mal, provavelmente a mal. Os mitos do Estado salvador, criador de riqueza e de empregos estão, felizmente, a ser desmascarados. Só a economia privada pode criar riqueza e trabalho. Portugal precisa de atrair investimento estrangeiro, mas para isso é preciso aumentar a produtividade e pôr a Justiça a funcionar. Sem estes dois factores o futuro será, como sempre foi, a emigração. Triste sina esta a dos portugueses.
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Este texto de António Ribeiro Ferreira continua a ser tão actual hoje como no dia em que foi escrito. Contudo, esta seita (há quem os defina usando termos mais contundentes, mas, por isso mesmo, bem mais verdadeiros), continua a tentar adormecer-nos brincando às comissões de inquèrito, enquanto, com a mais absoluta desvergonha, sugam o depauperado erário público e, sem critério nem moral, se preparam para esbanjar o que nos impostos - nomeadamente no agravamento do IRS - nos é subtraído, para promoverem pomposas celebrações comemorativas da instauração desta «canalhocracia».
Até quando iremos tolerar e sustentar esta corja de compadres, é a questão que cada vez mais se coloca.
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C U L P A D O S
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Quando se calam verdades,
Porque se amarram vontades
Com coacção, ou mercê,
Venda-se a sociedade,
Que só com sagacidade
Vai perceber o que vê.
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Em terra onde os contrastes
Só favorecem os trastes,
Sem que se saiba porquê,
Quando se fala em desastre,
Não há culpado que baste,
Se não for eu, ou você.
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Porque tardamos pôr fim
Neste viver mal, assim?...
Culpados, nós?!... Somos sim!
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Vítor Cintra

quinta-feira, abril 01, 2010

PÁSCOA FELIZ


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