sábado, dezembro 30, 2006

2007 - Bom Ano Novo


Chega ao fim o ano de 2006. Longe de mim a ideia de fazer um balanço do que foi este sexto ano do século XXI. Afinal foi um ano como tantos outros. Houve algumas coisas boas, naturalmente, e muitas outras menos boas, certamente mais do que as desejáveis.
Infelizmente o mundo assistiu, em 2006, ao multiplicar dos conflitos, ao crescimento da pobreza, à vulgarização da imoralidade, à repetição da desvergonha dos políticos, ao aumento dos casos de maus tratos, abusos e exploração de crianças, à hegemonia dos corruptos, ao domínio do crime.
Que 2007 possa vir a ser chamado o ano da transição. Que, durante ele, os povos encontrem a paz, que a fraternidade se imponha, que a solidariedade deixe de ser uma palavra oca, esgrimida pelos políticos, para se tornar no gesto de amor de que os pobres, os doentes, os desprotegidos e os que são vítimas de infortúnio carecem. Que seja, especialmente, o ano em que as crianças, em todo o mundo, encontrem nos adultos a protecção, ternura e respeito que a sua fragilidade requere.
Que 2007 seja também, para todos vós, amigos, o ano das vossas melhores realizações.

P E N A S

Sobre os ombros a sacola,
No caminho para a escola,
Empurrada pelo vento,
Enterrados, os pezinhos,
Nos lameiros dos caminhos,
Passo a passo, num tormento.

Tiritando, com o frio,
Vai olhando para o rio,
Que rouqueja com fragor;
Com coragem de criança
Vence o medo e lá avança,
Mas no rosto lê-se a dor.

Vítor Cintra
No livro: ECOS

terça-feira, dezembro 26, 2006

AUTORES e direitos de autor


É frequente, nalgumas páginas da blogosfera, encontrarmos poemas publicados, quantos de elevada sensibilidade e inquestionável qualidade, supostamente da autoria de quem os publica, sem menção expressa do nome do autor.
Acredita quem os publica que, pelo simples facto de estarem incluídos na sua página, estarão os seus trabalhos a salvo de plágio, ou eventual usurpação.
Infelizmente, não é assim. Só que, quando alguém descobre ter sido vítima de usurpação, normalmente é já demasiado tarde para acautelar a autoria. Até porque, a maior parte dos autores, particularmente os poetas, só se preocupa com registos autorais, depois de ter visto algum dos seus trabalhos usurpado. E, acreditem, quando isso acontece, é doloroso. Afinal, cada estrofe, cada poema, espelha um pouco de nós, da nossa alma.
Numa ou noutra ocasião, nalgumas páginas, sempre de boa fé, tentei deixar um alerta. Porém, se casos houve em que esse alerta foi entendido, outros houve também - felizmente poucos - em que o alerta foi tomado como ofensa.

R E F L E X Ã O

A escrever contei as penas
Da minha alma amargurada,
Não são grandes, nem pequenas,
São as minhas, só, mais nada.

No papel pus o sentido
Dado às coisas desta vida;
Nunca o tempo foi perdido,
Por ser gasto nesta lida.

Talvez quem, um dia, leia
O que escrevo nesta hora,
Sinta o mesmo que eu, agora.

Depois duma vida cheia
De trabalhos e desgostos,
Quem deseja ter opostos?

Vítor Cintra
No livro: DESABAFOS

sexta-feira, dezembro 22, 2006

NATAL - Tempo de paz

FELIZ NATAL
A todos os amigos da blogosfera que, ao longo destes meses, me visitaram, partilhando opiniões, alegrias ou tristezas, palavras de amor ou de protesto, sentimentos de esperança ou desgosto. A todos aqueles que, ainda que discordando das minhas opiniões, não deixaram de vir ler-me. E àqueles que, com opiniões e comentários, contribuiram para o meu enriquecimento intelectual, quero deixar uma palavra de apreço e agradecimento e desejar um Feliz Natal, com muita paz.
Lembrando, porém, aqueles a quem a infelicidade bateu à porta, os que são vítimas da guerra, os pobres, os desempregados, os sem abrigo, os órfãos, os doentes, os que estão sós, quero deixar um apontamento de esperança acreditando que, com o contributo de todos, o próximo Natal há-de ser melhor, menos sofrido, menos angustiado.
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R E S P E I T O
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Pelas beiras dos caminhos
Sabe Deus quantos velhinhos
Andarão neste Natal,
Sem que o mundo à sua frente
Lhes prometa que o presente
Não será sempre o normal.
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Quando o hoje é semelhante
Ao passado, já distante,
Como o ontem foi igual,
O futuro não existe
Num presente, que é tão triste,
Sem prever melhor final.
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O saber de muitos povos
Determina que os mais novos
Reconheçam ao idoso,
Na velhice, ter direito
A viver com mais respeito
E uns anos de repouso.
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Vítor Cintra
No livro: RELANCES

domingo, dezembro 17, 2006

A.R. - Comissões de Inquérito

(Imagem recolhida em "ideiasemdesalinho.blogs.sapo.pt")


Ouvir falar de Comissões de Inquérito, tornou-se pouco menos que anedótico. Quanto custam ao erário público, ou seja, a cada um de nós?... Que se pretende que esclareçam ou encubram?... Que resultados saiem delas, ou que consequências se extraiem?...
Quando apuram algo de óbvio, como o assassinato de um primeiro-ministro, as consequências, pese embora as evidências do crime, resultam em nada, porque nos meandros da "justiça", não há razões, nem critérios lógicos, procedem, ou não procedem, motivações 'formais' ou obscuras.
Ainda assim, na A.R., "lá vamos cantando e rindo" (como se dizia noutro tempo). Desfazados das realidades do país, porém, os polidores profissionais das bancadas de S. Bento, continuam na sua montanha "a parir ratos".
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I N Q U É R I T O S
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Não há nada que não tenha
Uma origem definida,
Quase sempre conhecida,
Muito embora não convenha.
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Se sucede uma desgraça,
Por descuido ou por incúria
Toda a culpa é 'ma lamúria,
Co' o destino por negaça.
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'Rigorosos' os inquéritos,
Que não trazem nada novo,
Nem sequer revelam méritos.
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É assim, desta maneira,
Que - lá diz a voz do povo -
Morre a culpa, mas solteira.
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Vítor Cintra
No livro: DESABAFOS

terça-feira, dezembro 12, 2006

KOFI ANNAN - Secretário Geral da O.N.U.

(Imagem recolhida na net)

Está prestes a terminar o mandato de Kofi Annan, como Secretário Geral das Nações Unidas. Não foi fácil - nunca é - a missão deste economista, nascido ganês, na condução dos destinos da O.N.U. Sobre a sua competência, para o desempenho do cargo, alguns líderes mundiais, a quando da sua indigitação, chegaram a manifestar reservas. A História, porém, não deixará de fazer-lhe justiça. O que, desde já, não pode é deixar de se lhe reconhecer a coragem, desfeito o equilíbrio - precário, embora - do tempo da chamada guerra fria, com que soube enfrentar os problemas, o seu bom senso político e a objectividade das suas análises e críticas. O seu discurso em Independence, é disso testemunho.
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P R O M E S S A S
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Não surgem por acaso muitas guerras,
Mas sim porque há disputas de poder,
Ou por sofreguidão de bens e terras.
E acabam inocentes a sofrer.
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As dúvidas que surgem ao direito,
Que cada governante julga ter,
São justas, quando assentam no respeito
Dos povos, que eles dizem defender.
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Não são nunca as promessas do presente,
Mas sim as do passado mais recente,
Que mostram o rigor do mais capaz.
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Promessas dum futuro mais risonho
Não deixam de não ser um belo sonho,
Importa perceber quem é que as faz.
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Vítor Cintra
No livro: DESABAFOS

quarta-feira, dezembro 06, 2006

MADEIRA - Turismo Rural


UM VALE NO PARAÍSO

Um trabalho assinado por Katya Delimbeuf, publicado na revista "Única", faz uma abordagem sobre as casas de Valleparaízo, na vila da Camacha, Ilha da Madeira, de que transcrevo esta passagem:

«...Quando a agricultura deixou de ser economicamente rentável, a família Câmara decidiu recuperar as oito casas de apoio agrícola e convertê-las ao turismo rural.
Mantiveram-se os patos, os periquitos, os pombos, os galos e as galinhas, que fazem as delícias dos mais novos. Estes também se rendem aos encantos dos cavalos e póneis da Escapada dos Cavaleiros, a 18 klm, onde se impõe o silêncio da natureza, a 900 m de altitude...»
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Temos uma tendência exagerada, para programar as nossas viagens, para além fronteiras, mas a cada momento vamos sabendo de pequenas maravilhas ao nosso dispor, cuja existência nos passou despercebida, apesar de fazerem as delícias de quem nos visita.
As nossas ilhas, tanto as dos Açores como as da Madeira, são paradisíacas. Cada uma delas com beleza diferente, naturalmente, mas igualmente cativante.
A Madeira, porém, alia à sua enorme beleza, a engenhosa vocação das suas gentes, quer para saberem rentabilizar turisticamente essa beleza, quer para receberem bem quem está de visita.

D E S C O B E R T A S

João Gonçalves Zarco as colocou
Nos mapas e nas cartas desse tempo.
E, porque tudo ali o deslumbrou,
Deu novas ao Infante e regressou
Às ilhas. Seu maior encantamento.

Tornou-se Porto Santo na primeira
Das ilhas, do Infante, descobertas.
Dali rumou, com Zarco, Vaz Teixeira
P'ra outra, que chamaram de Madeira
E donde vislumbraram as Desertas.

Tenazes, como bons navegadores
Em corso de aventura, longo, belo,
Tornados, dessas ilhas, os feitores,
Souberam ser também exploradores
Trazendo, em sua ajuda, Perestrelo.

E a saga que os levou àquelas ilhas,
Fazendo o nosso mundo mais pequeno,
Expôs, à nossa vista, maravilhas,
Mostrando um paraíso em poucas milhas,
Aonde até o clima é mais ameno.

Vítor Cintra
No livro: CONTRASTES

sexta-feira, dezembro 01, 2006

RESTAURAÇÃO - 1 de Dezembro de 1640

Bandeira de D.João IV

Haviam decorrido já 60 anos, depois que Filipe II de Espanha entrou em Portugal e ocupou o trono luso. Durante esse período, enquanto Espanha esmagava os povos com impostos, malbaratando recursos a financiar a guerra contra outras potências europeias, as colónias portuguesas, em África, nas costas do Malabar, na India, em Malaca, em Ceilão e no Brasil, votadas ao abandono, sofriam, um pouco por toda a parte, também por motivo dessa guerra, ataques das frotas dessas potências ou de corsários a elas afectos.
A revolta da Catalunha, como consequência da excessiva carga de impostos, pelas dificuldades criadas ao regime filipino, faciltou o sucesso da revolta portuguesa.
Em 1 de Dezembro de 1640, 120 conjurados, nobres e letrados, sabendo poder contar com a adesão popular, dirige-se ao Paço da Ribeira e, num golpe palaciano, elimina Miguel de Vasconcelos e, expulsando a duquesa de Mântua, vice-rei de Filipe IV de Espanha, restaura o Estado e restitui o trono a quem pertence imprescritivelmente, D. João, Duque de Bragança.
Santarém, no dia seguinte, 2 de Dezembro, é a primeira terra a aclamar o novo rei.
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D. JOÃO IV
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Co'a morte de Miguel de Vasconcelos,
Valido da duquesa vice-rei,
No reino, procurando outros modelos,
Lançava-se, em revolta, toda a grei.
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Surgiu então o Duque de Bragança,
Após se ter o golpe consumado,
Que, por ter assumido a liderança,
Início dava assim ao seu reinado.
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De novo Portugal, uma nação,
Vivia a independência restaurada,
Sabendo estar, apenas, começada.
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E ao dar total apoio a D. João,
O povo o elegia seu senhor,
Chamando-lhe de rei "Restaurador".
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Vítor Cintra
No livro: HOMENAGEM