domingo, outubro 29, 2006

COISAS DO BURRO

É assim mesmo o nome da página.
Não é, porém, por causa do nome, meus amigos, que vos peço, que lhe deitem uma olhada. É sim, para que tomem conhecimento do aparecimento de um novo livro, assinado por António Paiva, intitulado "juntando as letras".
O que é que este livro tem de especial?...
Quanto ao conteúdo, não sei, já que ainda o não li. Ainda que seja minha intenção lê-lo assim que estiver disponível. Mas tem qualquer coisa de especial, sim. É que, por cada exemplar vendido, as 'ALDEIAS SOS' receberão uma pequena contribuição. E acreditem, meus amigos, que bem útil e necessária é essa contribuição.

quinta-feira, outubro 26, 2006

SOMÁLIA - A descida aos infernos


A tomada de Mogadíscio


Os fundamentalistas islâmicos da Somália, após quatro meses de combates com uma milícia mobilizada por vários "senhores da guerra", tomaram a capital da Somália.
O líder da União dos Tribunais Islâmicos, organização alegadamente financiada pela Al Qaeda, afirmando que se trata de "uma vitória do povo com o apoio de Alá", convidou os residentes de Mogadíscio a aceitarem a nova liderança do país.
O povo Somáli sofre, há mais de quinze anos, as consequências da situação de guerra civil, entre as milícias armadas por vários "senhores da guerra" e as milícias islâmicas, na disputa do poder.
Entretanto, o cordenador da ONU, Bruno Schiemsky, denunciou a entrada de carregamentos de armas, diariamente, no país, o que faz prever a generalização do conflito.

Perante a possibilidade de a Somália vir a tornar-se num novo bastião do fundamentalismo islâmico e do terrorismo, o presidente dos Estados Unidos, Gerge W. Bush, anunciou estar a preparar uma «resposta americana» à situação.

(Fonte de informação: Revista "além-mar", nº 550)

Será que o Sr. Bush tem capacidade para 'preparar' uma resposta capaz, ou vai, somente, montar mais uma das suas trapalhadas?

SEM PERDÃO

Quem são esses dirigentes
Que sujeitam inocentes
A sofrer tantos tormentos,
Sem ouvir os seus lamentos?...

Quem é, neste mundo louco,
- Quase sempre por tão pouco -
Que sujeita semelhantes
A martírios tão gritantes?...

Como pode um ser humano,
Só por ter na mão poder,
Deixar outros a sofrer?...

Por vontade, ou por engano,
Egoísmo ou omissão,
É um crime sem perdão.

Vítor Cintra
No livro: MEMÓRIAS

sábado, outubro 21, 2006

JUSTIÇA - A politização

(imagem recolhida no blogJoão Tilly)

"Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré"

O nº 128 da Revista "Sábado" inclui um artigo do Professoar José Pacheco Pereira intitulado "A bem-vinda politização da justiça", de que, pelo seu interesse e pertinência, transcrevo alguns trechos:
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«Dúvidas houvesse sobre a politização da justiça e bastava ler o noticiário dos últimos dois meses para se perceber como é sólida e estabelecida a relação entre os mais altos cargos no sistema judicial, em especial na Procuradoria, e o poder político.
(...)
Em Portugal, o sistema que impera inclui doses de hipocrisia considerável, com grandes retóricas e grandes palavras sobre a "independência" do sistema judicial, a sua "autonomia", como se a justiça se exercesse numa redoma de cristal de homens impolutos e justos que não têm que prestar contas a ninguém, a não ser aos seus pares e mesmo assim pouco, e que são o último sustentáculo do povo versus todos os males, a começar pelos políticos corruptos e pedófilos. Esta retórica encobre uma luta de influências e poderes que se faz por detrás de grandes proclamações sobre a independência da justiça. É um conflito que envolve políticos, juízes, magistrados, advogados, sindicatos e grandes interesses que se movem à volta da justiça e da "injustiça". E que, numa democracia sã, deve ser tão escrutinado como qualquer decisão do Conselho de Ministros ou falta injustificada dos deputados.»
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É necessário dizer mais?... Mas há quem se melindre quando se diz que este regime não passa duma mal conseguida caricatura de democracia. Santa ignorância!

J U S T I Ç A

Se alguma vez encontrei
Razão p'ra compor poemas
Foi ao ter visto que a lei
Põe os interesses da grei
Atrás de muitos esquemas.

Sabendo quanto me exponho
Às críticas discordantes
Não abro mão do meu sonho;
Compondo, como componho,
Acuso apenas tratantes.

Justiça?!... Se fosse feita
Sem ver o nome do réu,
Não sendo embora perfeita,
Faria andar mais direita
A vida de quem sofreu.

Vítor Cintra
No livro: MOMENTOS

segunda-feira, outubro 16, 2006

PEDRAS QUE FALAM


Alguns escritores, pese embora a riqueza da sua obra, mergulham no limbo, quando não caiem mesmo, inexplicavelmente, no esquecimento.
Aconteceu isso, por exemplo, com António Campos Júnior, contemporâneo de António Nobre, com uma obra invejável, de tão vasta e rica, e de que destaco títulos como:
A Ala dos Namorados, A Filha do Polaco. A Raínha Madrasta, Santa Pátria, A Estrela de Nagasaqui, O Pagem da Duquesa, para só citar alguns, dos que tive oportunidade de ler, e que ainda hoje conservo.
Há dias, durante as férias, ao passar por Coimbra, frente à Igreja de Santa Cruz (a tal que o fadista diz ser "feita de pedra morena"), veio-me à memória o título Pedras que Falam, onde Campos Júnior, falando do templo em que repousam os restos mortais de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I, diz a certo passo (referindo-se ao livro em que o Conde Raczynski exalta como obras de arte as arquitecturas de Santa Cruz, dos Jerónimos e da Batalha):

E por ser assim, foi que um estrangeiro, muito entendido em obras de arte e que muito estudou estes monumentos de Portugal, escreveu num livro seu isto... «É uma verdadeira jóia, que sentimos vontade de meter num medalhão ou encastoar num anel».

Pela riqueza histórica dos seus romances, pela leitura fácil, que nos prende e transporta, vale a pena ler Campos Júnior. Aliás, vale a pena ler.

L E I T U R A

De quem não lê, tenho pena,
Por pouco ser o saber,
Mas só tem alma pequena,
Quem sabe mas não quer ler.

Se, co'a leitura, aprendi
Muitas das coisas que digo,
Também um livro, p'ra ti,
Pode ser como um amigo.

Diz-se que ler é à toa,
Se não se gosta do tema,
Mas a leitura, que é boa,
Tem o 'saber' como lema.

Muitos dos livros que li,
Li-os pensando comigo:
"As horas gastas aqui,
São ganhas! Mais, não consigo!"


Vítor Cintra
No livro: VERTIGEM

terça-feira, outubro 10, 2006

Companhia de Cavalaria 570

1965 - Grupo de combate da C. Cav. 570
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Em Outubro de 1963, o destino destes jovens foi, como o de tantos jovens da mesma geração, o então denominado 'Ultramar' português. Sem opção, e quando todo o país lhes apontava esse destino como dever, aceitaram-no e cumpriram com honra o que a Pátria lhes exigiu.
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" Longe da sua terra, o Zé Soldado não vencera apenas os seus medos - conquistara um mundo novo. Ali, na imensidão de África, compreendeu que a alma ia muito além do camuflado e da espingarda, e que o seu gesto e palavra chegavam longe, muito longe. Batalhando na selva, junto a desconhecidos de diferentes culturas, aceitou - quase sempre com um sorriso - as ordens, o Fado e a missão. De noite, recatado, à família escreveu palavras ternas... a uns e outros tocou. Cansado de procurar a essência do universo em pequenas notas de rodapé, descobrirá um dia o historiador que existe saudade, e que a mesma - de um e outro lado da montanha - se escreve e sente em português. "
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O excerto que transcrevi, extraído do livro "ELEFANTE DUNDUN", da autoria de João Luiz Mendes Paulo - comandante da Companhia de Cavalaria 570 - recentemente falecido, é a minha homenagem póstuma ao homem, ao militar, sob cujo comando tive a honra de servir e aos camaradas que, no distante ano de 1963, comigo embarcaram para cumprir o dever que a Pátria nos impôs.
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M U D A N Ç A

Servimos nós, com honra, Portugal,
No tempo em que era grande esta Nação.
Pusémos, ao servir, a devoção,
Esforço e sacrifício, sem igual.

E mais do que somente a juventude,
Os sonhos, esperanças e fervor,
A Pátria nos pediu, como penhor,
A vida, os ideais e a virtude.

A tudo respondemos nós "Presente!"
Fieis ao cumprimento dum dever,
Que a todos nós cabia responder.

Até que, por mudança, de repente,
Passámos a ser tidos como mal,
Vergonha e desamor de Portugal.

Vítor Cintra
No livro: ENCRUZILHADA

quarta-feira, outubro 04, 2006

O FIM DA MONARQUIA


Aconteceu há 96 anos.

O último Rei de Portugal foi deposto, numa Revolução, levada a efeito pelos, então, chamados republicanos. Foi essa revolução que, a 5 de Outubro de 1910, implantou a República. A Primeira República.
Dessa Primeira República Portuguesa ficou a triste imagem da instabilidade, devido às divergências entre os mentores da revolução, engajados a interesses diferentes, quantos deles pouco claros ou confessáveis. E, foi essa instabilidade, que abriu as portas à Ditadura Militar que implantou o chamado Estado Novo.
D. Manuel II, que morreu novo, no exílio - dizem alguns que de desgosto e saudade da Pátria - pernoitou, a sua última noite em Portugal, no Palácio Real de Mafra. No dia seguinte, na Ericeira, embarcava com sua mãe, a Rainha D. Amélia, rumo ao exílio, em Inglaterra.

D. MANUEL II

Co'o pai, foi o irmão assassinado,
Num tempo de fervor republicano
Que fez, D. Manuel, um soberano
De apenas, só, dois anos de reinado.

O rei, num ambiente de anarquia,
Depondo do governo João Franco,
Tentava transmitir um novo encanto,
Ao rosto e ao valor da monarquia.

Forçado, p'la tragédia derradeira,
Partiu, com sua mãe, da Ericeira,
E a espr'ança no regresso, mas remota.

Saudoso do país, o rei deposto,
Finou-se, no exílio, de desgosto;
Daí, o ser chamado "Patriota".


Vítor Cintra
No livro: HOMENAGEM

domingo, outubro 01, 2006

DOURO - Terras do xisto

DOURO - PAISAGEM PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE
Completaram-se, em Setembro, os 250 anos de classificação da Região Demarcada do Vinho do Porto. É a mais antiga região demarcada, de vinhos, do mundo. A Unesco classificou, em 2001, 13 concelhos do Douro vinhateiro como Património Mundial da Humanidade.
A paisagem de vinhedos descendo socalcos, escavados em terras de xisto, capazes de produzirem, por conjugação de factores especiais únicos - terra agreste, clima de extremos, vontade férrea num trabalho árduo das gentes - um vinho único, deslumbra todos os que têm o privilégio de a conhecer e alcançou, merecidamente, esse reconhecimento da Unesco.
Esta nota, é uma homenagem às gentes do Douro que, no passado souberam construir e no presente sabem conservar e valorizar, tão fabuloso e único património.

B U C Ó L I C O

Veio o sol!... A madrugada
Recolheu-se envergonhada
Do seu lento madrugar.
Pintalgada com magia
Surge a cor do novo dia,
Feito vida a despertar.

Passam corvos e os grasnidos,
Que nos chegam aos ouvidos,
São protestos de viúva;
Viuvez que a veste escura,
Simbolismo de amargura,
Acentua quando há chuva.

Cantam melros nos silvados,
Académicos alados
Do saber da Natureza;
Mesmo à beira dos caminhos

Há pardais, fazendo ninhos
Com afã, arte, beleza.

Corre Março, mas Abril
Vai chegar, com "águas mil"
E com campos verdejantes;
É a vida que acontece,

Toda ela feita prece,
Hoje e sempre, como dantes.

Vítor Cintra
No livro: MEMÓRIAS