quinta-feira, julho 26, 2007

EÇA DE QUEIRÓS disse...

(imagem recolhida na internet)

No ano de 1871, Eça de Queirós disse:

«Estamos perdidos há muito tempo...
O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
Os carácteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: “o país está perdido!”
Algum opositor do actual governo?... Não!»


Hoje deixo-vos com as palavras sábias e ainda actuais de Eça de Queiroz e com este soneto
.
SEM PERDÃO

Quem são esses dirigentes
Que sujeitam inocente
A sofrer tantos tormentos
Sem ouvir os seus lamentos?...

Quem é neste mundo louco,
- Quase sempre por tão pouco -
Que sujeita semelhantes
A martírios tão gritantes?...

Como pode um ser humano,
Só por ter na mão poder,
Deixar outros a sofrer?...

Por vontade, ou por engano,
Egoísmo, ou omisão,
É um crime sem perdão.

Vítor Cintra
No livro: MEMÓRIAS

domingo, julho 22, 2007

O MUNDO DA BLOGOSFERA

(imagem recolhida na internet)

Numa conversa de amigos, questionavam-se as razões que levam tantas pessoas, apesar da vida corrida a que são forçados, a dedicarem muito do seu escasso tempo de descanso, ao mundo dos blogues.
É certo que há pessoas com disponibilidade de tempo que lhes permite passar horas frente à tela do computador. Andar de blogue em blogue, marcando a sua passagem, independentemente dos conteúdos (que muitas vezes nem sequer lhes merecem uma leitura superficial) com o objectivo único de levar os outros a retribuir a visita deixando um comentário. Se bem que, coleccionar comentários é um passatempo legítimo, naturalmente.
Mas não é menos certo que muitas outras pessoas, encontram na blogosfera razões bastantes para nela navegarem, apesar das limitações de tempo, no mínimo com o mesmo interesse, senão mais, do que outros que se sentam diante de um televisor.
Pessoalmente, para lá doutras razões, a possibilidade de partilhar de:

Emoções como as que O MONTADO ,ou A OUTRA FACE , connosco dividem,
Belezas como as que BELEZAS MARIENSES , ou SILÊNCIO , nos mostram,
Sensibilidades como COISAS DO BURRO , ou VIVER DE BRISA nos proporcionam,
Sentimentos de que em AROMAS DE PORTUGAL , ou em CRIANCICES , nos falam,
Poesia como a que ALMA DE POETA , ou PÉTALAS SOLTAS, nos oferecem,
Cultura como a que LIVROS E AUTORES , ou AGAIN AND AGAIN , nos revelam,

Crítica Consciente como em JOSÉ MARIA MARTINS ,ou em BLOGANDO FRANCAMENTE lemos,
Lazer como o que em LET'S LOOK , ou em OS MEUS LIVROS , espreitamos,
Artes como as que em ISABEL FILIPE , ou em HILDA - ARTES , podemos apreciar,
Sentido Cívico como DUAS CIDADES ou DO PORTUGAL PROFUNDO nos dão a conhecer,

e tantos outros que, só por si, são, necessariamente, razão bastante para dedicar parte do meu tempo à blogosfera. Aos amigos que por aqui passam, se os não conhecem, convido-os a que lhes façam uma visita e constatem se a minha apreciação tem ou não razão de ser.

Não fora este mundo virtual e, sabe Deus, a quantos de nós, e quando, seria dada a oportunidade de conhecer outros mundos, outros sonhos, outros viveres.
Quantas amizades não nasceram nas páginas da blogosfera?... Quantos de nós não transportaram já para um cara a cara a amizade que nasceu virtual, na troca de mensagens?
Mas, infelizmente, por aqui se cruza também, o que de mais detestável, quiçá aberrante, doentio e torpe a natureza humana é capaz de gerar. A cada um de nós cabe, como contributo para um mundo melhor, estar atento e denunciar essas situações. Também por isso vale a pena dedicar à blogosfera algum do nosso tempo.
.
MONHOS

Mistérios se agitam
Na terra dos sonhos.
São tantos os monhos,
Que as mentes levitam.

São peixes que voam
E aves que nadam,
São homens que fadam,
Silêncios que soam.

Por força das mentes
Despertam sentidos.
Há mundos sorvidos
Por corpos frementes.

Vítor Cintra
No livro: CONTRASTES

segunda-feira, julho 16, 2007

5ª FRASE - Página 161

(imagem recolhida na net)
Anda por aí a febre dos desafios. Já tive oportunidade de dizer que não me sinto particularmente inclinado para estes jogos do «nomear e ser nomeado». Muitos dos 'desafios', que surgem de vez em quando, são de facto interessantes e têm mérito. Outros, porém...
Muitas nomeações acontecem, não por mérito do nomeado mas por gentileza dos amigos.
Atento a tais gentilezas, nunca deixei de dar sequência a esses 'desafios'. Nem deixarei, só que vou alterar as regras. Já veremos.

O meu amigo Mário de LIVROS E AUTORES lançou-me o seguinte desafio:
Transcrever e comentar a 5ª frase da página 161 do livro que estou a ler.
Estou a ler, ou melhor, a reler, o livro de Boris Pasternak intitulado «O DOUTOR JIVAGO» que, segundo se diz, terá tido um peso enorme na atribuição do Prémio Nobel da Literatura com que o autor foi galardoado em 1958.
A 5ª frase da página 161 diz assim: "Esteve uns tempos em Sampetersburgo." Esta frase, só por si, não diz nada. O livro, porém, é muito mais interessante. Conta a história de Iuri Andreievitch Jivago, filho de um grande industrial russo. Órfão de pai e mãe, foi criado por uma família de Moscovo. Partiu para a guerra como médico militar. A revolução de 1917 surpreendeu-o em Moscovo. Partindo para os Urais com a família, é ali aprisionado pelos revolucionários. Quando finalmente regressa não encontra a família, mas conhece Lara, por quem se apaixona. O destino, porém, separa-os e enquanto ela segue para o Extremo Oriente, ele parte para Moscovo. Incapaz de se adaptar a um novo mundo, Jivago morre passado pouco tempo, deixando uma extensa obra poética que, postumamente, acaba por ser reunida.
Cumprido o desafio, mais ou menos nos moldes seguidos pelo desafiante, segue-se a alteração das regras, para o modelo que passará a ser a minha regra. Ou seja, não nomear especificamente ninguém, nomeando, porém, todos os amigos que aqui passarem e quiserem aceitar o desafio.

segunda-feira, julho 09, 2007

PORTUGAL E A CENSURA

(imagem recolhida na net)

Da autoria de Helena Matos, a revista "Sábado" (5 a 11 de Julho) deu à estampa um artigo intitulado "O CERTO E O ERRADO"
Em caixa diz:
A correspondência "endereçada directamente a determinados funcionários ou ao cuidado dos mesmos será aberta na coordenação, desde que oriunda de qualquer serviço público ou outro (...)"
.
Entre outras considerações diz a autora:
"Desde que li esta transcrição da nota interna assinada por uma coordenadora dum serviço público que não consigo deixar de pensar em quem vai cumprir a ordem.(...)"
e mais adiante acrescenta:
"Contudo, este caso da abertura da correspondência é mais grave que os anteriores(...) O que se exige é que funcionários participem num acto condenável: a violação de correspondência.(...)"
.
E eu digo:
Que a sabujice e censura estão instaladas e em funcionamento, alguém duvida?... Para cumprir eficazmente as ordens dos 'comissários' não faltam 'kapos'.
.
Até quando?...
.
CADINHOS
.
Muitos cadinhos
Quedam sozinhos
Quando os caminhos
Mudam de mão;
Forças imensas
Surgem intensas,
Quando há presenças
Tidas em vão.
.
Homens ilustres
Fogem de ajustes,
Vindos de embustes
Sem ter razão.
Gente capaz,
Que é perspicaz,
Não vai atrás
Dum charlatão.
.
Vítor Cintra
No livro: CONTRASTES

segunda-feira, julho 02, 2007

HERÓIS ESQUECIDOS

JOÃO AGUIAR assina, na Revista "Tempo Livre", uma coluna intitulada "VIAGEM NA HISTÓRIA", em que relata factos da nossa História. Na revista de Abril de 2007, o episódio que lhe serviu de tema, foi a intervenção de um soldado do Regimento de Infantaria 19, de nome Aníbal Augusto Milhais, na batalha de La Lys, a 9 de Abril de 1918.
E diz o escritor:

"... Com este nome designa-se o combate do primeiro dia da grande ofensiva alemã contra a 2ª Divisão do CEP, como parte da «Operação Georgette», lançada pelo 6º Exército alemão do general Lunderdorff. Foi nesse combate que Milhais ganhou o seu nome de honra; a bravura que mostrou foi tal que o seu comandante, o major João Ferreira do Amaral, o abraçou e lhe disse: «Chamas-te Milhais, mas vales milhões!». E o «Milhões» ficou.
Três meses depois, em Julho, o Soldado Milhões tornava-se definitivamente célebre: no campo de Isberg, sozinho, empunhando a sua metralhadora Lewis, cobriu e protegeu a retirada dos seus camaradas portugueses e de soldados escoceses. Consta que se houve de tal forma que os alemães pensaram estarem a enfrentar toda uma unidade inimiga. Em consequência - coisa muito rara - recebeu a Torre e Espada no próprio campo de batalha, das mãos do general Gomes da Costa. A esta distinção seguir-se-ia a Cruz de Guerra, a Cruz de Leopoldo da Bélgica e muitas outras.

Nada disto impediu que mais tarde, em 1928, o herói emigrasse para o Brasil, para ver se conseguia sustentar os filhos: uma pátria agradecida NÃO velava por ele... porém, os portugueses residentes no Brasil abriram uma subscrição a seu favor, para que pudesse viver dignamente no seu país. E Milhões regressou a Portugal. ..."
.
É sina os heróis deste país serem votados ao esquecimento.
.
.
C A N T O
.
Eu canto os homens nobres e honrados,
Que não se demitiram do dever
E, indo p'ra tão longe combater,
Honraram Portugal, como soldados.
.
Eu canto os homens simples, mas leais,
Que ousando cumprir bem cada missão,
Vieram dar ao mundo uma lição
De como respeitar os ideais.
.
Eu canto os homens cuja juventude
Serviu a Portugal, e fez História,
Com actos de coragem e de glória;
.
E a quem, nem a mudança de atitude,
Imposta por cobardes e traidores,
Calou para dar voz aos detractores.
.
Vítor Cintra
No livro: ENCRUZILHADA