
Pela sua pertinência e oportunidade, se transcreve o artigo, publicado já há um ano e intitulado:
.
«Bendito sapatinho
.
O senhor presidente relativo do Conselho tirou uns diazinhos de férias na Suíça onde, presume-se, andou a exercitar a sua arte de esquiar. Ainda bem. E para grande felicidade dos indígenas desta vez não partiu nenhum osso ou cartilagem. Está pois com forças redobradas para continuar a massacrar os neurónios de toda a gente com as suas patranhas sobre a retoma da economia, os grandes investimentos públicos, os computadores para as pobres criancinhas, que ainda estão longe de perceber o futuro que as espera, e os gloriosos amanhãs que só existem na excelsa cabecinha de Sua Excelência. Nada de novo, portanto. O senhor Presidente da República ficou por cá, por terras algarvias. No intervalo das merecidas férias falou, como é costume, aos indígenas. Sem surpresas. Toda a gente sabe que o desemprego vai continuar a aumentar, a dívida pública é o que se sabe, o endividamento externo é uma vergonha, o défice das contas públicas não pára de subir e a economia está em estado comatoso. E mesmo o apelo a um pacto de regime para o sítio ter um Orçamento compatível com o estado em que se encontra é pura e simplesmente chover no molhado. São palavras sensatas, até bonitas, ditas num tom sério e preocupado, mas são apenas isso. Palavras que os indígenas, com emprego e dinheiro no bolso, deste sítio manhoso, preguiçoso, hipócrita, pobre, deprimido e obviamente cada vez mais mal frequentado, ouviram entre duas mordidelas numa fatia de bolo-rei. Quanto à oposição, nomeadamente o PSD, nada. Os sociais-democratas andam por aí como baratas tontas à procura de umas ideias, preparam-se para mais um ajuste de contas e esperam que o senhor presidente relativo do Conselho retome a actividade para debitarem mais uns lugares-comuns sobre as brilhantes políticas do Governo de Sua Excelência. No meio deste marasmo, desta miséria material e intelectual, restam os optimistas, os que conseguem ver uma luzinha ao fundo de um qualquer túnel, que acreditam nas virtualidades do sítio e num futuro radioso que estará algures à espera dos indígenas. São vozes de esperança, de exaltação das virtualidades políticas e pessoais do senhor presidente relativo do Conselho e que do alto da sua sabedoria lembram aos indígenas que este regime, apesar de tudo, lhes deu sapatos. Há um tempo para tudo seus ingratos. Benzam-se e dêem graças às luminárias que os governam por ainda não andarem descalços.»
António Ribeiro Ferreira, Jornalista – in CM
********************************
É caso para perguntar:
Para os políticos o que é que mudou, de há um ano para cá, apesar das dificuldades do país terem ultrapassado os limites do suportável?
Continuam a levar uma vida de estadão, gastando à tripa-forra, rebolando-se na opulência que o desperdício dos recursos, o empobrecimento do povo e o endividamento do país lhes vai garantindo.
Enquanto isso, embalam-nos com 'conversa da treta', discutindo compra e venda de acções deste ou daquele pseudo banco, desta ou daquela hipotética sociedade, na tentativa de mascarar a falta de projectos ou soluções para Portugal, numa vergonhosa «lavagem de roupa suja», como se os problemas do país se resumissem só, e apenas, ao que um único político abocanhou da gamela orçamental e todos os outros fossem inocentes, no desbragamento, esbanjamento e usurpação, quiçá roubo, do magro pão de tantos pobres.
É mais do que óbvio o motivo porque o FMI aterroriza tanto todos os políticos.
.
C O N T R A D I T Ó R I O
.
São nossas as intenções
De ter um mundo melhor,
Mas vós sabeis as razões
Que o fazem ficar pior.
.
É nosso o desejo ardente
De ver o mundo feliz,
Mas vosso é o que não sente
Paixão p'lo que a gente diz.
.
São nossas as tradições
De dar por solidariedade,
Vós tendes motivações
Que o fazem, mas por vaidade.
.
É nosso o sentir urgente
Que chegue o fim da pobreza,
Mas vosso é o que desmente
Não ter apego à riqueza.
.
Vítor Cintra
No livro: VERTIGEM