A Roda dos Enjeitados
Com maior frequência do que alguma vez será possível aceitar - quaisquer que sejam as razões que lhes estejam subjacentes - sabemos de casos de recém-nascidos abandonados, quando não mesmo assassinados, por quem os gerou. Desde sanitários de locais públicos, até contentores de lixo, a desumanidade repete-se e atinge proporções irracionais.
Durante séculos, muitos países - entre os quais Portugal - encontraram na "Roda dos Enjeitados" uma forma de salvar inocentes. Até que, no século XIX, num cinismo inqualificável, os políticos entenderam decretar o fim da "Roda dos Enjeitados" sob a puritana argumentação de que tal figura era imprópria e incompatível com uma sociedade pretensamente evoluída.
Como se, por decreto, todos os problemas ficassem resolvidos. Hoje, contudo, muitos países, assumindo com dignidade o erro desse aberrante entendimento, souberam retroceder. Mas, enquanto a Europa avança, com soluções que garantam o direito à vida, como na Bélgica, por cá o obscurantismo alargou-se.
Durante séculos, muitos países - entre os quais Portugal - encontraram na "Roda dos Enjeitados" uma forma de salvar inocentes. Até que, no século XIX, num cinismo inqualificável, os políticos entenderam decretar o fim da "Roda dos Enjeitados" sob a puritana argumentação de que tal figura era imprópria e incompatível com uma sociedade pretensamente evoluída.
Como se, por decreto, todos os problemas ficassem resolvidos. Hoje, contudo, muitos países, assumindo com dignidade o erro desse aberrante entendimento, souberam retroceder. Mas, enquanto a Europa avança, com soluções que garantam o direito à vida, como na Bélgica, por cá o obscurantismo alargou-se.
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A B A N D O N A D O
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Deixado ao abandono pela mãe
Deixado ao abandono pela mãe
Por ser de nascimento indesejado,
Lutou contra o destino e foi alguém
Ilustre, com valor, bem educado..
Sabendo que a revolta não se esgota,
Enquanto se não pode perdoar,
Pautou a vida toda numa nota:
"Que Mãe é sempre, e só, quem sabe amar".
"Que Mãe é sempre, e só, quem sabe amar".
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Amou, como ninguém, quem o criou,
Dizendo, sempre em tom de brincadeira:
"Nasci, mas fui gerado em chocadeira!"
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Passados muitos anos, já avô,
Lamenta essa mulher - com certa dor -
Que, tendo um filho, não lhe deu amor.
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Vítor Cintra
No livro: À DISTÂNCIA