quinta-feira, março 26, 2009

EÇA DE QUEIROZ - O que diria hoje?

(imagem recolhida na internet)

"ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que à muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"

(Eça de Queiroz, 1867 in "O distrito de Évora")
Hoje, 142 anos depois, estamos bem pior.
É que hoje, os políticos já não discursam com cortesia e pura dicção, alguns (muitos) escrevem mal e com erros e, quanto à inteligência... (para a 'tramóia' é óbvia).
Quanto ao restante, concordo totalmente com a análise de Eça de Queiroz. Se alguma diferença há, é para pior.
No que concerne à independência, todos sentimos que, a confusão é tal que qualquer semelhança é mera coincidência.
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P E R D I D O
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Sem eira, nem beira!
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Sem norte,
Sem rumo,
Numa caminhada
Sem sorte e aprumo,
Nem pressas,
Nem meças.
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E, queira ou não queira,
Co' a vida às avessas.
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Com tudo e sem nada!
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Vítor Cintra
No livro: MOMENTOS

sábado, março 21, 2009

Imprensa (in)dependente?

(imagem recolhida na internet)
No passado dia 17 de Março, o rei e a rainha da Jordânia, visitaram, no concelho de Sintra, uma unidade industrial, de capitais maioritariamente estrangeiros, cuja produção se destina principalmente ao Mercado Externo (cerca de 80%).
A visita não mereceu destaque, nem sequer foi nota de rodapé, nos noticiários televisivos.
No dia seguinte, 18 de Março, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra presidiu à inauguração de uma unidade industrial, de reciclagem de RCDs, instalada em Pero Pinheiro, concelho de Sintra, cujo investimento de cerca de UM MILHÃO de €, foi feito com capitais exclusivamente portugueses.
O evento não mereceu destaque, nem sequer nota de rodapé, nos notíciários televisivos.
Num e noutro caso foram as «televisões» atempada e oficialmente informadas e, no segundo caso, pelo menos, formalmente convidadas.
Tendo em conta, não só o estatuto dos visitantes jordanos, no primeiro caso, mas também a importância do empreendimento e do investimento, no segundo caso, principalmente porque a crise económica, que nos atinge, tem raízes muito mais antigas do que a crise internacional, uma imprensa independente e isenta, nunca deixaria de noticiar qualquer dos eventos. (Digo eu, que não sou, como os senhores directores de informação das estações televisivas, "jornalista?", claro). Mas, mesmo não o sendo, a questão não deixa de me confundir.
Porquê a ausência e o silêncio?... Qual a razão do desinteresse?... Especialmente se tivermos em conta que, no próprio dia 17, as mesmas televisões compareceram em peso, e noticiaram com destaque a visita dos monarcas jordanos a uma escola, na Amadora, onde por acaso (só por acaso, obviamente) estava presente a sra. ministra da educação(?).
Por acaso também (só por acaso, obviamente) o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, não pertence ao "partido do governo".
E por acaso (só por acaso, ainda), as televisões não perdem uma única demonstração do «Magalhães», quando o ilustre "vendedor", anda nas escolas a distribui-los, mesmo que logo a seguir, depois do 'show' televisivo, os manda recolher, para repetir, noutra escola, a mesma "palhaçada" propagandística.

É claro que a imprensa é (in)dependente. Ninguém duvide!
Não se sabe muito bem é de quê?...
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S E G R E D O S
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Existe um passado escuro
Na vida de cada um
Que, se fora do comum,
Se cala, como nenhum,
Julgando-se estar seguro.
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Não há, porém, um segredo,
Por muito que bem guardado,
Que seja 'não cobiçado'
Por quem se vê bafejado
Por gula de um bom enredo.
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Por isso mesmo a verdade,
Que vem à luz algum dia,
Na mente de quem porfia,
Só tem qualquer mais valia
Se for mordaz novidade.
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Vítor Cintra
No livro: CONTRASTES

segunda-feira, março 16, 2009

«Bestas de lugar nenhum»

(imagem recolhida na internet)

Num país da África Ocidental, de um momento para o outro, a vida do jovem Agu muda radicalmente. A paz na aldeia em que vive com os seus pais e a irmã é rompida com a chegada de uma milícia liderada por um homem louco e cruel.
Sozinho, afastado da sua família, Agu, recrutado como o mais novo soldado do grupo, é obrigado a matar para não morrer, presenciando os horrores de um conflito, que não compreende, e tornando-se parte dele.
***
Esta é a história que, no seu romance de estreia, o escritor nigeriano Uzodinma Iweala nos relata, na primeira pessoa, em «Beasts of No Nation» (2005 Harper Perennial), como experiência de uma das muitas crianças obrigadas a combater, como bestas ferozes à solta, nas mãos de comandantes sanguinários.
(Fonte de informação: Revista Além-Mar)
O número de "crianças-soldados" diminuiu nos últimos anos, mas estima-se que ainda existam 250.000 menores, em todo o mundo, envolvidos em conflitos.
Pelo menos 24 países ou territórios obrigam milhares de crianças a servir nos seus exércitos ou em grupos armados.
Na maior parte dos casos, subjacente aos conflitos nesses países ou territórios, estão as riquezas do subsolo, ou outros interesses inconfessados. Mas nunca preocupações com os direitos das populações.
Amargamente curioso é o silêncio dos "paladinos" dos direitos humanos, quando se trata de governantes ou comandantes que se situam na sua esfera de interesses.
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C O N C L U S Ã O
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Não julgo haver futuro sem esperança,
Nem temo a minha sorte, nem a tua,
Mas temo pela vida da criança
Que passa, descuidada, pela rua.
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Não creio que a bandeira, que se agita,
Nas mãos de pacifistas de fachada,
Resulte na maneira mais bonita
De ter um amanhã melhor que nada.
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Porquê tapar o sol co' uma peneira
Ao por-se, duma forma masoquista,
Ao lado duma corja oportunista?
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Existe uma lição mais verdadeira:
- Quem quer manter a paz na sua terra
Terá que prepará-la para a guerra!
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Vítor Cintra
No livro: DIVAGANDO

sexta-feira, março 13, 2009

DIA MUNDIAL DA POESIA

(imagem recolhida na internet)

Hoje, dizem alguns, comemora-se o "Dia Mundial da Poesia". E, porque não?... Há dias mundiais para tudo e mais alguma coisa, porque não para a Poesia?
Seja ou não importante, julgo que não faz mal nenhum - muito pelo contrário - evocar a Poesia.
Sendo assim, aqui fica a minha homenagem a todos os poetas.
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P O E T A
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Ser poeta... é delirar,
Delirar alegre ou triste;
Fazer versos é sonhar
Co' aquilo que não existe.
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Ser poeta... é esquecer,
Da vida, a realidade,
É, num abraço, abranger
O mundo e a eternidade.
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Ser poeta, realmente,
É viver da ilusão
Nas horas de solidão;
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É escrever o que se sente
Dando asas, livremente,
À nossa imaginação.
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Vítor Cintra
No livro: DISPERSOS

sábado, março 07, 2009

De volta


Depois de uns dias ausente, desta vez em trabalho e não em passeio, estou de regresso.
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À minha espera, um mimo da amiga Ana Martins, representado pelo "selo" que acima reproduzo. Obrigado Ana, pela tua gentileza e amizade.
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Infelizmente nem tudo me deixa inteiramente feliz.
Parte das expectativas que tantos amigos (e eu próprio) tinham a respeito da decisão dos senhores juízes, sobre o caso de FLÁVIA , de que vos dei conta no artigo anterior, gorou-se. Mas se todos os quesitos não alcançaram êxito, pelo menos uma parte encontrou eco na voz da Justiça de Brasília, como podem ver no blog de Flávia.
Os juízes deliberaram responsabilizar o condomínio, proprietário da piscina que foi causa do acidente, e determinar o pagamento da indemnização, por parte da seguradora, o que quer que isso represente. Ilibaram também de qualquer responsabilidade no acidente, Odele, mãe de Flávia.
Fraco êxito, porém, se se tiver em atenção que a irresponsabilidade de fabricantes ou instaladores, condenou uma criança a um estado de coma que nenhuma indemnização reverterá.
Só que, "sentados no banco dos réus" estavam entidades muito mais poderosas do que uma Mãe, clamando por justiça.
É assim, infelizmente, a justiça dos homens. presa a leis genéricas e naturalmente insensíveis a dramas como este.
Não sei se, neste caso, o poema que se segue é ou não justo, mas é o que me apetece dizer.
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J U S T I Ç A
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Se alguma vez encontrei
Razão p'ra compor poemas
Foi ao ter visto que a lei
Põe os interesses da grei
Atrás de muitos esquemas.
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Sabendo quanto me exponho
Às críticas discordantes
Não abro mão do meu sonho;
Compondo, como componho,
Acuso apenas tratantes.
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Justiça?!... Se fosse feita
Sem ver o nome do réu,
Não sendo embora perfeita,
Faria andar mais direita
A vida de quem sofreu.
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Vítor Cintra
No livro: MOMENTOS