BARTOLOMEU DIAS

Navegando rumo a sul, ao longo da costa africana, descobriu angra dos Ilhéus - hoje chamada baía de Spencer - e chegou ao cabo das Voltas, após o que, assaltado por violento temporal, andou treze dias à mercê de ventos e mar. Quando o tempo amainou, não encontrando costa a leste, rumou a norte, tendo acabado por aportar à foz de um rio a que deu o nome de "rio do Infante".
Diz-se que Bartolomeu Dias pretenderia continuar viagem, na demanda das notícias que o rei lhe ordenara, mas que a oposição das tripulações o levaram a retroceder. Certo é que, já em 1487, na viagem de regresso descobriram o grande cabo que haviam dobrado, sem se aperceberem, durante o temporal. Por isso Bartolomeu Dias, ao erguer no pormontório o padrão chamado de São Filipe, deu-lhe o nome de Cabo Tormentoso.
Regressado ao reino, dando notícias da viagem, mandou D. João II que alterasse o nome dado ao pormontório, de Cabo Tormentoso para Cabo da Boa Esperança, dado que, a passagem desse ponto, à época considerada impossível, havia sido conseguida.
Bartolomeu Dias viria a encontrar a morte junto ao mesmo Cabo da Boa Esperança, em 1500, quando o navio em que navegava a caminho da Índia - que fazia parte da frota de Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil - ali naufragou.
Cumpriu-se assim, o vaticínio do gigante Adamastor, tal como nos Lusíadas foi descrito.
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N A U F R Á G I O
O vento uiva alto, enfurecido,
Dançando na borrasca gigantesca,
Agitam-se no céu, enegrecido,
Tormentos duma noite que é dantesca.
A chuva, grossa e fria, em catadupas,
Que jorra, sem parar, das nuvens negras,
Alaga, quer os homens, quer chalupas,
Que o mar, enraivecido, atira às pedras.
Os raios, ziguezagues a luzir,
Projectam-se do céu. vindo cair
No alto dos coqueiros, desgrenhados;
E cada voz murmura uma oração,
Pedindo à Santa Virgem protecção
P'ra aqueles pobres homens naufragados.
Vítor Cintra
No livro: AO ACASO